Você já parou para pensar de onde vem e para onde vai a consciência? A consciência parece ser muito mais um movimento que se percebe a partir do outro do que algo construído individualmente. Seu próprio DNA, o que você come ou bebe, a educação, memória, experise, crenças, fé, estímulos recebidos, finanças, efeito prime, etc. surgiu de suas próprias escolhas ou você já entra na sociedade com o viés de suas figuras paternas? Dessa forma, podemos culpabilizar individualmente as pessoas pelos seus atos “irresponsáveis” já que ele não é o único autor de sua consciência?
Discorrer e discutir sobre consciência levanta uma série de questionamentos um tanto polêmicos. Falar sobre consciência é falar sobre sociedade, política, educação, economia, família, valores, religião, cultura... para construir um ser humano usamos de alicerce cada uma das facetas da sociedade até formar o próprio eu. Essa questão se torna um pouco mais aprofundada quando pensamos que essas escolhas que constroem a própria consciência e que papel você vai exercer na sociedade são determinadas ou influenciadas por outras pessoas ou coisas, algumas delas até mesmo antes de você nascer, e que essas pessoas já foram determinadas/influenciadas por outras.
Se pararmos pra refletir, a própria educação inicial de um bebê quando vamos introduzindo fonemas, sons, gestos, toques, etc. já se configura como uma forma de influenciar a forma que ele vai perceber o mundo. Por exemplos, pais que desejam que seus filhos sejam médicos, provavelmente na infância presenteiam-nos com brinquedos dessa natureza, roupinhas de médico, já falam que eles serão “doutores”. E então, no futuro, quando os filhos dizem: “meu sonho é ser médico”, seria um sonho dele mesmo ou o sonho dos seus pais? E o sonho dos seus pais era deles mesmo, ou já vinha de outras influências?
E qual a responsabilidade do governo nesse processo? E da família? E do período histórico que vivemos? E da cultura que compartilhamos? Além disso, as próprias redes sociais hoje fazem papel de formadores de opiniões.
Assim como a profissão, a própria transgressão da lei pode ser pensada da mesma forma. Assuntos dessa natureza interessam ao Neurodireito. Agora imagine que um indivíduo que transgredi a lei, para ele chegar até ali, uma série de construções e desconstruções foram feitas na sua própria consciência, sua própria forma de pensar e agir, as coisas que ele sente falta, as pessoas que ele se relaciona, onde cresceu, qual sua religião, cultura, valores, a educação que teve, etc. O crime é só o produto final, mas, por trás dele existe uma série de influencias e decisões. Dessa forma, é possível culpar apenas aquele que cometeu o ato final? Se pensarmos o crime com essa perspectiva, perceberemos que é muito mais profundo do que parece, e que o termo “criminoso” precisaria ser revisto e questionado.
Seguindo o mesmo pensamento, agora atribuindo o ato a um menor de idade. Imagine que além de tudo que já expomos, o adolescente ainda não tem seu cérebro completamente formado, ele ainda continua em desenvolvimento. Seria coerente responsabiliza-lo? Acredito que se perdêssemos menos tempo culpando e penalizando e dedicássemos esses esforços a uma perspectiva educacional de qualidade, a uma educação financeira coerente, e uma estrutura de sociedade onde todos pudessem ser pessoas que contribuem e se beneficiam da economia, os presídios estaria menos lotados e as escolas e ambientes de trabalho mais cheios. The content published here is the exclusive responsibility of the authors.