Na última década, houve um interesse crescente em usar os conhecimentos advindos da neurociência na avaliação e tratamento da psicopatologia relacionada ao comportamento violento e antissocial. Consequentemente, métodos neurocientíficos podem, por exemplo, ser usados na detecção de problemas psiquiátricos em réus. Dessa forma, vocês conseguem imaginar como conhecimentos neurocientíficos são usados no entendimento do comportamento antissocial?
"Comportamento antissocial" é um termo abrangente, e cientistas especialmente os que estudam Neurodireito têm se interessado em estuda-lo. Alguns estudos envolvendo imageneamento cerebral relacionam a psicopatia a várias aberrações estruturais, principalmente na substância branca e cinzenta das regiões frontal (vmPFC e OFC) e temporal (a amígdala). Nos últimos anos, também surgiram indicações para uma disfunção estriatal no comportamento antissocial.
Quanto a hormônios, alguns estudos (mesmo que não totalmente conclusivos) relacionam tradicionalmente o comportamento antissocial e agressivo a níveis de serotonina, cortisol e testosterona. Embora um grande número de genes esteja associado ao comportamento antissocial, os genes MAOA (monoamina oxidase) e 5HTT (transportador de serotonina), em particular, parecem ser genes candidatos que estão envolvidos nesse comportamento. Além disso, a enzima catecol O-metiltransferase (COMT) desempenha um papel importante na modulação dos níveis de dopamina no PFC e, portanto, está associada a subtipos de comportamento antissocial, dependendo da desregulação funcional associada a esses subtipos.
Ainda sobre essa temática, estudos neurocognitivos entre várias populações mostram que o controle cognitivo inadequado está associado a comportamentos agressivos e a crimes relacionados à violência. Com isso, foi possível perceber que pessoas violentas que cometem crimes têm uma capacidade reduzida de suprimir respostas indesejáveis (função do córtex frontal). Outra linha de pesquisa estuda sobre atenção em antissociais. Esses estudos perceberam que a função atencional é prejudicada para esses indivíduos. Além disso, vários outros estudos demonstraram que pessoas agressivas prestam mais atenção a estímulos hostis (por exemplo, rostos raivosos) do que pessoas não agressivas.
Outra descoberta envolve EEG neses estudos. Com isso, foi encontrado diferenças no processamento de recompensas em indivíduos com escores mais altos e mais baixos em traços de personalidade antissocial. Dessa forma, verificaram que indivíduos antissociais têm dificuldades em monitorar e incorporar feedback relacionado a erros na aprendizagem, e isso demostra um pouco das dificuldades que esses indivíduos tem em se adaptar às mudanças ambientais quando os objetivos motivacionais não são atingidos. Falando em EEG, você sabia que nossa plataforma dispõe desses produtos? Clique aqui e confira.
Então, voltando a pergunta acima, a neurociência explica sim muitos aspectos do comportamento antissocial. Porém, apenas explicar não é suficiente. Aqui cabe o questionamento – será que se todas as crianças tivessem acesso à escola, direitos básicos, afeto familiar, etc. poderíamos mudar um pouco desse quadro? Talvez se todos os investimentos direcionados ao sistema prisional fossem efetivamente empregados na educação, nossas crianças poderiam mudar essa história! Até porque como dizia Paulo Freire:
“A educação não transforma o mundo. A educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”
Referências
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