A neurociência do preconceito

Wednesday, 19 de January de 2022
Preconceitos são qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico. O interessante é que esses juízos estão mais presente do que podemos imaginar no dia a dia das pessoas. Tradicionalmente, existem preconceitos já enraizados na população, como também, outros mais “disfarçados”. Porém, a grande questão é que as mesmas pessoas que produzem essa opinião muitas vezes estão na rede social militando sobre o contrário. Seria hipocrisia ou uma falta de autocrítica? Qual papel do cérebro no processamento desses preconceitos?

                                                                           

Uma área que tem se interessado por esses estudos se chama “The Neuroscience of Prejudice” ou neurociência do preconceito. As literaturas sobre avaliações de preconceitos, especialmente as baseadas em raça sugerem que redes neurais distintas apoiam esses processos. Dessa forma, vários estudos determinaram que o processamento facial básico também envolve a detecção automática de características sociais, como idade, raça e sexo. Além disso, uma rede de estruturas límbicas (parte do cérebro associada à emoção), bem como estruturas do córtex frontal (áreas do cérebro associadas a ordem superior que integram experiências emocionais e funções executivas de processamento) podem ser associadas ao processamento do preconceito.

Abaixo segue algumas áreas envolvidas com o processamento cerebral e sua relação com o preceito.

A amígdala desempenha um papel mais amplo na detecção rápida de estímulos biologicamente relevantes e na modulação da atenção e da memória. As diferenças raciais na resposta da amígdala às vezes se correlacionam com medidas implícitas (mas não explícitas) de viés racial. A amígdala, OFC, e striatum ventral estão relacionados com avaliações de raça, tomada de decisão e de recompensa respectivamente. A atividade nessas regiões é modulada por sinais de controle originários das regiões pré-frontais laterais (DLPFC, VLPFC) que podem facilitar a regulação do viés racial.  Porém, o consenso atual sugere que essa região não é o principal substrato do preconceito racial. A sensibilidade à raça na amígdala (ou seja, preto > branco) pode refletir vários fatores de associações culturalmente aprendidas (por exemplo, homens negros = ameaça). Associações culturais, em particular, podem variar entre indivíduos, dependendo das experiências formativas. Consistente com essa visão, maior contato interracial na infância diminui a resposta da amígdala a rostos negros familiares.

Outros estudos sugerem o papel do córtex pré-frontal ventromedial (VMPFC). A literatura de neuroimagem sobre avaliação baseada em status enfocou o VMPFC, uma região envolvida em avaliações sociais e a geração de significado afetivo, por exemplo, estudos comportamentais sugerem que indivíduos de alto status quando estão sendo avaliados geralmente se beneficiam de resultados positivos. Em um estudo, a interação entre a dimensão de status apresentada pelo alvo (financeira versus moral) e o nível de status (alto, igual ou baixo) previa a atividade do VMPFC. A atividade do VMPFC foi maior ao visualizar os alvos com status moral mais alto em comparação ao mais baixo.  

Além destes, uma análise fMRI baseada revelou que o lobo temporal anterior acompanhava as alterações julgamento a julgamento na valência associada a cada grupo encontrado na tarefa. 

Visto que a sociedade avançou bastante e nossa própria legislação não permite muitos desses preconceitos (ao menos os clássicos), o nosso cérebro acompanhou essa mudança?

Há poucos dias um episódio marcante nos EUA, mostrou um policial branco envolvido na morte de um cidadão negro na cidade americana de Minneapolis. A notícia foi muito divulgada em redes sociais e boa parte da população começou a divulgar o assunto como forma de protesto. É interessante ver o senso crítico das pessoas evoluindo, visto que, o preconceito relacionado a cor da pele perpetuou em nossa sociedade por séculos. Porém, os estudos envolvendo redes sociais demonstram muitas vezes que o que a pessoa posta na rede tem muita relação com como ela quer ser vista pelos outros, e, muitas vezes, “apoiar a causa” é uma forma de ser visto positivamente.

Porém, esse tipo de luta demonstra pequenos passos sociais em direção a uma sociedade mais comprometida com esse tipo de causa. Mesmo não estando ainda nos níveis ideiais, se olharmos para o passado podemos ver o quanto evoluimos nessas questões, e, com a mudança de paradigmas, nosso cérebro pode ir se modulando e percebendo de formas diferentes. E, mesmo muitas vezes sendo algo "enraizado" na sociedade, você pode ir dessensibilizando seu cérebro nessas questões! A autocrítica e adoção de pequenos passos já demonstra um sentimento (mesmo que sensível) em favor da mudança!

"Você nunca me verá em uma passeata contra guerra, mas, pode me ver em uma passeata em favor da paz" (Madre Tereza).
 

Referências

DERKS, Belle; SCHEEPERS, Daan; ELLEMERS, Naomi (Ed.). Neuroscience of prejudice and intergroup relations. Psychology Press, 2013.

MATTAN, Bradley D. et al. The social neuroscience of race-based and status-based prejudice. Current opinion in psychology, v. 24, p. 27-34, 2018.

TERBECK, Sylvia. The Neuroscience of Prejudice. In: The Social Neuroscience of Intergroup Relations:. Springer, Cham, 2016. p. 29-49.

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Autor: Livia Nascimento Rabelo
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