Já imaginou estar no corpo de outra pessoa? Muitas pessoas tem essa fantasia mas, como o cérebro se comportaria com essa situação?
Filme Se eu fosse você 2 ( Google Play)
Um estudo realizado conseguiu proporcionar essa perspectiva de estar no corpo de outra pessoa. O projeto equipou participantes com óculos que mostram imagens ao vivo do corpo de outra pessoa, como se fosse o seu próprio corpo. Por exemplo, você e uma amigo: em um certo momento, você vai ter a perspectiva e ilusão de estar no corpo dele, como se fosse o seu.
Parece aqueles filmes de comédia que a gente assiste, não é mesmo? Entretanto, é real!
Os participantes sentiram, por um breve tempo, como se acordaram no corpo de outra pessoa e isso teve resultados significativos na autopercepção. O estudo apontou que que, antes dessa “troca de corpo”, os participantes falavam que seus amigos tinham características como a confiança, independência, alegria, etc. Já durante a troca do corpo, eles se classificaram como mais semelhantes ao amigos.
Figura: Concepção da troca de corpo (Tacikowski et al, 2020)
Essa ilusão ainda afetou a memória, onde o desempenho pode ser reduzido se interferirmos na autorrepresentação de alguém. A atualização de autoconceito auxilia na codificação de memória contínua. Os participantes que conseguiram se sentir melhor no corpo do amigo, como se fosse o seu mesmo, conseguiram ajustar melhor as classificações de personalidade e apresentaram um melhor desempenho no teste.
Mas o que isso pode contribuir em perspectivas futuras?
Isso pode ser importante para analisar o transtorno de despersonalização, onde as pessoas sentem incoerência entre o corpo e estado mental, e também em casos como a depressão. O pesquisador Tacikowski explica a aplicação benéfica que esses resultados podem representar: “Pessoas que sofrem de depressão freqüentemente têm crenças muito rígidas e negativas sobre si mesmas que podem ser devastadoras para seu funcionamento diário. Se você mudar ligeiramente essa ilusão, isso pode tornar essas crenças menos rígidas e menos negativas.”
Sendo assim, entender o mecanismo do cérebro, responsável por esse comportamento, é uma das linhas de pesquisas que devem ser estudas. Os resultados podem trazer modelos inovadores para aplicações clínicas e, com isso, proporcionar melhores tratamentos para aqueles que necessitam. Estudos com EEG ou NIRS podem ser ferramentas interessantes para a análise da atividade cerebral durante o experimento.
Curioso? Você pode ver o vídeo do experimento no próprio artigo!
Referências
Pawel Tacikowski, Marieke L. Weijs, H. Henrik Ehrsson . “Perception of Our Own Body Influences Self-Concept and Self-Incoherence Impairs Episodic Memory”. iScience.2020
Bedder R.L. Bush D. Banakou D. Peck T. Slater M. Burgess N. A mechanistic account of bodily resonance and implicit bias. Cognition. 2019; 184: 1-10
Bréchet L. Mange R. Herbelin B. Theillaud Q. Gauthier B. Serino A. Blankeid O. First-person view of one’s body in immersive virtual reality: influence on episodic memory. PLoS One. 2019; 14: e0197763
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