Falta de recursos, sofrimento, pobreza... Quase metade das duas bilhões de crianças do mundo vivem essa realidade! Afetando a saúde e desenvolvimento acadêmico, as crianças vivem situações de má nutrição ou violência. Como o cérebro reage nessas condições?
As crianças pobres tendem a experimentar mais estresse e dificuldade do que crianças mais ricas e, além disso, possuem menos ferramentas para lidar com esses problemas. Muitos apresentam mais atrasos no desenvolvimento, problemas emocionais e dificuldade na escola. A grande questão é entender como o cérebro lida com essas dificuldades e se molda com a pobreza.
Pesquisas realizadas mostraram que a pobreza muda a maneira como o cérebro se desenvolve, diminuindo partes do cérebro relacionado com a memória, planejamento e tomada de decisões. Um primeiro teste realizado foi fazendo o uso de diversas atividades testando memória, linguagem, raciocínio espacial e função executiva (mais voltado para resolução de problemas e autocontrole). O teste teve como resultado que as crianças de menor condição financeira apresentaram pior desempenho nas atividades e as regiões voltadas para linguagem e função executiva estão entre as mais lentas para amadurecer e são modificadas de acordo com as experiencias da criança.
Outro estudo, realizado na Universidade de Wisconsin, encontrou diferença estrutural de acordo com a classe. Crianças de baixa renda apresentaram menos massa cinzenta no hipocampo e no lobo frontal e temporal, analisando através de ressonância magnética, do que as crianças de maior poder econômico. Ainda verificando em como o cérebro se molda de acordo com a situação financeira, as crianças mais ricas apresentam melhor capacidade em detectar as mudanças de cor do que as mais crianças mais pobres.
Fazendo o uso do NIRS, as crianças mais ricas ainda apresentaram menor atividade em partes do córtex frontal envolvidas em foco e atenção, o que mostra que eles realizam um menor esforço mental para conseguirem se concentrar. Uma das formas de avaliar o desempenho dos estudantes é associando NIRS ao EEG, onde é possível analisar a atividade cerebral envolvida com a função cognitiva e registrar os dados.
Entretanto, tem notícias boas também... Essa situação não é permanente! A educação e interações positivas podem reduzir os efeitos que foram causados. O cérebro tem uma elevada capacidade de adaptação. Através da atuação dos responsáveis e mentores, é possível proporcionar experiências positivas para as crianças, fazendo com que apresentam menor estresse emocional.
Indo mais além, a neurociência já está comprovando que o problema existe! Sendo assim, visando melhorar essas questões, as organizações públicas devem dar atenção ao problema, que é um problema biomédico e social, e intervir através de políticas sociais que visam contribuir no desenvolvimento de crianças mais pobres também.
Referências
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