Todos nós sabemos da dificuldade de controlar as emoções. Diante de diversas situações do dia a dia, as pessoas podem apresentar problemas emocionais no âmbito pessoal, profissional e até na aprendizagem e memória. No meio a tantas adversidades como pobreza, criminalidade e brigas em casa, você já parou para pensar em quantas pessoas são afetadas?
As experiências emocionais estão presentes, por natureza, no ser humano. Para realizar qualquer ação, envolvemos a emoção e esta se modula com aspectos da cognição. Sendo assim, as emoções afetam na atenção, aprendizagem, memória, raciocínio e resoluções de problemas. Esses são fatores críticos nos domínios educacionais pois, em ambientes não propícios, os alunos podem ter uma enorme dificuldade na escola ou qualquer meio de ensino.
Os sistemas sensoriais não tem a capacidade de processar todos os sentidos de uma vez e requerem mecanismos de atenção. A emoção está conectada com a codificação de novas informações e aprimora de forma seletica a capacidade de detecção, avaliação e extração de dados para a memória. Em outras palavras, o aprendizado e memória estão altamente relacionados com mudanças fisiológias. Podemos dividir os processos afetivos e emocionais do sistema nervoso central em [1]:
1) Emoções do processo primário: estes regulam ações emocionadas não condicionadas que antecipam as condições de sobrevivência e orientam o processo secundário por mecanismos associativos de aprendizado
2) Aprendizado e memória do processo secundário: nesta etapa, as informações relevantes são levadas para regiões superiores do cérebro, como o córtex pré-frontal, onde ocorre a terceira etapa
3) Funções cognitivas superiores do processo terciário: ocorre o processo de cognição que vai planejar os próximos passos de acordo com as experiências passadas.
Dando uma ênfase maior no processo terciário, podemos perceber que o cognitivo é uma extensão das emoções. Nós aprendemos de acordo com as experiências das situações que passamos e isso está envolvido com a regulação emocional, consciência e também, em níveis mais baixos, a homeostase e experiências motivacionais que envolvem a fome e a sede. Trazendo para o aspecto social então, sabemos que muitas crianças até tem acesso a escola mas passam fome por questões financeiras, outras crianças que presenciam uma briga dos pais dentro de casa, também tem suas emoções conturbadas. Todos esses fatores influenciam no sistema de aprendizado.
O nosso corpo possui mecanismos emocionais e da homeostase em que passamos por sensações positivas e negativas. Podemos sofrer por influências psicológicas e biológicas e fazem uma regulação através disto. Por um lado, somos orientados a sobrevivência e o sucesso reprodutivo associado a homeostase e fatos fisiológicos de forma positiva (resposta antecipada) e a outra responde a sobrevivência e falha reprodutiva associada aos mesmos critérios, porém de forma negativa (resposta reativa) [2]. A cognição serve para modular esses dois estados , emocional e homeostático, para melhorar a sobrevivência, maximizar as recompensas e minimizas os riscos e punições. Essa regulação entre as variáveis faz com que o nosso comportamento tende a ser estimulado de acordo com os fatores fisiológicos e psicológicos [3]. Resumindo: as sensações, emoções e fatores fisiológicos estão altamente relacionados com o cognitivo : o aprendizado. A figura abaixo representa essa regulação e associação entre o sistema.
Certo, sabemos da interação entre os sistemas e o grau de influência das emoções no aprendizado, mas, existem diversas formas de fazer essa análise para conseguir direcionar melhor o cognitivo. A eletroencefalografia (EEG) amplifica os impulsos elétricos cerebrais e associada a modalidades de imagem como, por exemplo , fMRI ou fNIRS (figura abaixo), pode-se obter análises preciosas de indivíduos de acordo com o estado emocional deles e a ativação da cognição. Os equipamentos neurocientíficos podem ser aplicados ao ensino para se obter melhores resultados e também entender melhor a correlação entre a emoção com o aprendizado.
As sensações e emoções estão altamente associadas com o aprendizado e a memória. É muito fácil julgar crianças com dificuldades para aprender sem saber as experiências que elas têm passado. Não apenas crianças, qualquer pessoa. Existe uma ciência envolvida por trás do aprendizado e ela deve ser respeitada, devemos entender as limitações do ser humano e julgar menos. “Ajudar” é a palavra chave para que os próximos dias da sociedade sejam vistos com esperança, em termos sociais e até econômicos, visto que a educação muda o mundo!
Referências
[1] Panksepp, J., and Solms, M. (2012). What is neuropsychoanalysis? Clinically relevant studies of the minded brain. Trends Cogn. Sci. 16, 6–8.
[2] Northoff, G., Heinzel, A., De Greck, M., Bermpohl, F., Dobrowolny, H., and Panksepp, J. (2006). Self-referential processing in our brain—a meta-analysis of imaging studies on the self. Neuroimage 31, 440–457.
[3] Damasio, A., and Carvalho, G. B. (2013). The nature of feelings: evolutionary andneurobiological origins. Nat. Rev. Neurosci. 14, 143–152.
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