Os seres humanos requerem uma conceituação compartilhada das emoções dos outros para o funcionamento social adaptativo. A capacidade de definir emoções na infância até a adolescência é um aspecto crucial do desenvolvimento emocional e social das crianças. Durante esse período, as crianças passam por mudanças significativas em sua capacidade de compreender e expressar emoções, bem como de reconhecer e interpretar as emoções dos outros. Uma compreensão adequada das emoções desde a infância é um fator crucial no desenvolvimento da resiliência. Aqui, vamos discutir como essa capacidade de definir emoções na infância pode repercutir na sua resiliência emocional na vida adulta.
A capacidade de definir emoções começa a emergir nos primeiros anos de vida. Bebês demonstram sensibilidade às expressões faciais e vocais associadas às emoções básicas, como alegria, tristeza, raiva e medo. Ao longo da infância, as crianças começam a desenvolver um vocabulário emocional mais elaborado e a entender que diferentes situações podem evocar diferentes emoções. Ao longo desse período, o cérebro representa diferentes conceitos de emoção distintamente em todo o córtex, cerebelo e caudado. Um trabalho utilizando fMRI mostrou que os padrões de ativação de cada emoção mudam ao longo desse desenvolvimento, onde os padrões de ativação são mais semelhantes entre crianças mais velhas do que entre crianças mais novas. Além disso, cenas que exigiam inferir estados emocionais negativos provocam maior similaridade de ativação de rede de modo padrão em crianças mais velhas do que em crianças mais novas (imagem abaixo). Isso sugere que as representações dos conceitos de emoção são relativamente estáveis no meio e no final da infância e se sincronizam entre os indivíduos durante a adolescência.
As emoções são construídas por meio da interação entre fatores biológicos e influências sociais. As experiências emocionais das crianças são moldadas por suas interações com os cuidadores e o ambiente social, o que, por sua vez, influencia seu desenvolvimento emocional. No entanto, é importante destacar que o desenvolvimento emocional pode ser influenciado por uma série de fatores, incluindo fatores genéticos, culturais e ambientais. Por exemplo, pesquisas sugerem que as práticas parentais, como o suporte emocional e a modelagem de comportamentos emocionalmente saudáveis, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento emocional das crianças.
A importância do reconhecimento e da compreensão das emoções dos outros para o desenvolvimento da empatia e das habilidades sociais. Estudos têm mostrado que crianças com habilidades mais avançadas de definição emocional tendem a ter relacionamentos mais positivos e a apresentar maior competência social. Nesse contexto, se sabe que crianças que possuem essas habilidades emocionais bem desenvolvidas têm maior capacidade de regular suas emoções em momentos de estresse e adversidades, como mudanças familiares, dificuldades acadêmicas ou problemas interpessoais. Elas são capazes de identificar e rotular suas próprias emoções, compreender a origem e os efeitos dessas emoções e utilizar estratégias adequadas para lidar com elas. Essas habilidades emocionais são fundamentais para desenvolver a resiliência. Essas crianças tendem a ser mais adaptáveis, flexíveis e capazes de encontrar soluções criativas para os desafios da vida. Um estudo que acompanhou crianças desde a infância até a idade adulta e descobriu que aquelas com habilidades emocionais mais desenvolvidas na infância apresentaram maior resiliência na vida adulta, incluindo melhor saúde mental, maior satisfação com a vida e maior bem-estar emocional.
Nesse contexto, é imprescindível que novos trabalhos sejam realizados investigando novos métodos que possam ser implementados durante a infância que visem estimular a capacidade de distinguir emoções visando o desenvolvimento da resiliência na fase adulta. Para isso, também é importante correlacionar os funcionais da atividade cerebral (NIRS/EEG) associando padrões relacionados a essa capacidade de distinção emocional.
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