O nosso corpo foi preparado para viver em equilíbrio, que na fisiologia chamamos de homeostase. Qualquer fator do mundo externo ou interno que cause um desequilíbrio, o corpo interpreta como um “agente estressor”.
Nos primórdios, o principal agente estressor era ameaça de animais selvagens, advindos do mundo externo. Assim, quando nossos antepassados se deparavam com um leão, por exemplo, ligavam seu mecanismo de estresse com intuito de mobilizar energia rápida para lutar ou fugir. Uma das respostas do mecanismo de estresse é o aumento na secreção de alguns hormônios como por exemplo o cortisol (SAPOLSKY, 2005).
Atualmente, nosso agente estressor não é mais o leão, mas sim a preocupação com aquela conta para pagar, a ansiedade em apresentar um trabalho em frente a uma sala de aula, uma cobrança de pênalti no futebol, o medo de errar um lance livre durante o jogo de basquete. Todos esses exemplos são ameaças do nosso mundo interno, gerada por pensamentos negativos, sendo interpretadas como um perigo, ativando o mesmo sistema de estresse, aumentando a liberação do cortisol no nosso corpo com o intuito de deixar-nos preparados para lutar ou fugir.
Dessa maneira, quando estamos ansiosos, estressados ou com medo de algo real ou que nem aconteceu ainda, essa energia acumulada e não utilizada acaba sendo prejudicial ao nosso corpo. Quando esse mecanismo é sensibilizado por longo período ou continuamente, ou seja, quanto mais tempo passamos nesse estado de ansiedade ou medo, desencadeamos uma energia desnecessária, podendo levar o nosso organismo a uma maior propensão à hipertensão, ao Diabetes do tipo 2, a desordens de ansiedade generalizada e distúrbios como compulsão alimentar.
Nessa pandemia devido ao COVID-19, estudos em países como China (WANG et al., 2020) e Itália (CASAGRANDE et al., 2020) demonstraram que já nos primeiros meses da quarentena, a população como um todo apresentou altos níveis de ansiedade, estresse e depressão, associado as medidas preventivas como a utilização de máscaras, o confinamento em casa, e o medo de ser contaminado pelo vírus que nem se quer podemos ver. Acredito que você leitor, também, em algum ponto dessa quarentena, ligou o seu mecanismo de luta ou fuga através de sentimentos como ansiedade, estresse ou medo, sem sair do seu sofá ou da sua cama, com a ameaça apenas presente no seu mundo interno, ou seja, na imaginação.
Você sabia?
Técnicas de respiração auxiliam a reduzir a ativação do sistema de estresse. Um estudo recente demonstrou que 3 minutos de respiração profunda foi capaz de reduzir o estresse causado pela utilização da máscara durante a quarentena (TIAN, KIM & BAE, 2020).
Outra estratégia utilizada é a neuromodulação não invasiva, mais especificamente, a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC). Uma revisão sistemática recente (YOSEPHI et al., 2019) evidenciou o uso da ETCC catódica (diminuição da excitabilidade cortical) como estratégia para reduzir o medo e interromper a memória do medo. Ou seja, estimular eletricamente seu cérebro no DLPFC (córtex pré-frontal dorsolateral) esquerdo pode reduzir significativamente o seu medo assim como modular a memória do medo.
Texto: Profa. Luciane Moscaleski
Colaboração: Profa. Dra. Ana Carolina Paludo
Referências:
1. Casagrande, M., Favieri, F., Tambelli, R., & Forte, G. (2020). The enemy who sealed the world: Effects quarantine due to the COVID-19 on sleep quality, anxiety, and psychological distress in the Italian population. Sleep Medicine 75, 12-20.
2. Sapolsky, R. (2005). Why Zebras Don’t Get Ulcers. New York: Henry Holt & Company.
3. Tian, Z., Kim, B. Y., & Bae, M. J. (2020). Study on reducing the stress of wearing a mask through deep breathing. stress, 6, 7.
4. Wang, C., Pan, R., Wan, X. et al. (2020) Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health17, 1729.
5. Yosephi, Mohaddeseh Hafez et al. The effects of trans-cranial direct current stimulation intervention on fear: A systematic review of literature. Journal of Clinical Neuroscience, v. 62, p. 7-13, 2019.
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