O poder do Kawaii

Thursday, 21 de May de 2020

O contato ou visualização com um filhote de animal desperta sensações de felicidade e cuidado. Será que isso pode afetar o foco de atenção?

Bebês são tão fofinhos, não acha? E quanto aos filhotes de gatinhos e cachorrinhos? Não dá uma vontade de pegar no colo? Já parou pra pensar o porquê desse comportamento quando vemos bebês ou filhotes de animais? Uma das explicações para esse comportamento é que quando vemos algo tem a cabeça desproporcional ao tamanho do corpo, tendemos a ter esse sentimento de achar algo ‘fofinho’. O melhor exemplo talvez seja de fato os bebês, pois durante a formação embrionária, ocorre primeiramente o crescimento no crânio, a fim de comportar o cérebro humano. Somente após algumas semanas, o crescimento de outras partes do corpo acontecem de forma mais acelerada e, mesmo assim, bebês nascem com a cabeça desproporcional ao tamanho do corpo. De maneira semelhante acontece com os animais selvagens, principalmente felinos, que além do tamanho da cabeça, apresentam testa e olhos grandes e protuberantes.
Na língua japonesa existe uma palavra para definir essa característica para de ‘cabeçudos fofos’: Kawaii, que seria equivalente a ‘cute’ em inglês e ‘fofo’ em português. Nessa cultura, a presença dos Kawaii está, principalmente, nos brinquedos, mangás e animes. A propósito, nos animes essa característica está fortemente representada na classe dos Konomo, que são desenhos animados direcionados ao público infantil, como é o caso do Pokémon, Hamtaro e Digimon, por exemplo. Nos brinquedos a representação clássica é a Hello Kitty. Considerando que esses exemplos orientais são tão populares da cultura ocidental, podemos dizer que o kawaii ganhou o mundo.

Em primeira análise, os kawaii são figuras direcionadas ao público infantil. Porém há de se notar que filhotes possuem características kawaii e despertam sentimentos afetivos também em jovens e adultos. Dessa forma, imagens fofas capturam a atenção humana, induzindo motivação para um comportamento cuidadoso. Pensando nisso, será que as imagens fofas podem influenciar no foco atencional das pessoas? Pesando em responder essa pergunta, Nittono et al. investigaram o efeito da visualização de imagens fofas sobre o foco atencional, em três experimentos:
    I. Comparar o score e tempo de realização da tarefa (em segundos) em teste de destreza motora fina, antes e após a visualização de: G1) imagens de filhotes animais (n = 24); G2) imagens de animais adultos (n = 24);
     II. Comparar a acuraria em teste matrizes de numéricas (sem resposta motora), antes e após a visualização de G1) imagens de filhotes de animais (n = 16); G2) imagens de animais adultos (n = 16); G3) imagens de comidas (n = 16);
    III. Comparar as repostas de tempo de reação de reconhecimento de letras, antes e após a visualização de imagens de filhotes de animais, animais adultos e objetos neutros (n =36).
Ao final de todos os estudos, os sujeitos respondiam a um questionário de 6 pontos sobre quão fofo, infantil, prazerosas e excitante eram algumas imagens aleatoriamente selecionadas dos experimentos.
No primeiro experimento, as imagens de filhotes de animais foram consideradas mais fofas e infantis. O grupo que visualizou os filhotes de animais aumentou significativamente o score, mas também o tempo de realização do teste. Esses resultados levam a crer que visualizar figuras fofas pode melhorar o cuidado ao realizar tarefas que demandem atenção. O aumento da atenção pode tornar uma tarefa mais lenta, porém, mais acurada.

No segundo experimento, imagens de filhotes de animais foram consideradas mais fofas e infantis, enquanto imagens de comidas foram consideradas mais prazerosas. Apenas o grupo que visualizou imagens de filhotes de animais obteve melhor resposta de acurácia após a visualização. Os resultados desse experimento sugerem que a percepção e foco atencional também são positivamente influenciados pela visualização de imagens fofas. Além disso, o sentimento positivo despertado pelas imagens pode influenciar em comportamento mais assertivos.

No experimento 3 as imagens de filhotes foram consideradas mais fofas, infantis e prazerosas. Não foram encontradas diferenças significativas após a visualização de nenhuma das categorias de imagens.
De maneira geral, os experimentos mostram que a visualização de imagens fofas produz impacto comportamental, sobretudo associados ao cuidado que, por sua vez, possui relação com o foco atencional. Nesse sentido, parece que o kawaii exerce de fato uma influencia psicológica, podendo afetar comportamentos. Futuros estudos devem procurar identificar padrões neuroelétricos ligados a visualização de kawaii, principalmente por analises de potencial relacionado ao evento (ERP).
 
Referência:
Nittono et al. (2012). The Power of Kawaii: Viewing Cute Images Promotes a Careful Behavior and Narrows Attentional Focus. Plos One. Doi: 10.1371/journal.pone.0046362
 
 

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Autor: Heloiana Karoliny Campos Faro
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