Neurônio? Astrócito? O que é mais importante para o cérebro?

Friday, 08 de March de 2019

No post Células da Glia: de coadjuvantes à protagonistas comentamos sobre pesquisas que destacam o papel dos astrócitos e da astroglia em processos cognitivos relacionados à memória, aprendizado e à pŕopia consciência humana. Com isso em mente, novas perguntas podem ser feitas quanto à composição neural dos nossos comportamentos e da nossa consciência, como:


  1. O quão importante são essas células para esses processos? Os neurônios são mais importantes? Como que essas células contribuem para esses processos?

  2. O que implica descobrir que muito dos nossos comportamentos e sensações têm origens astrogliais?




Cada vez mais, os estudos da macroglia indicam que há uma dependência entre os neurônios e os astrócitos, de modo que um precisa do outro para que seu funcionamento seja pleno. Sabendo-se da importância dos astrócitos para a homeostase do SNC, não é difícil imaginar que os neurônios apresentariam problemas em seu metabolismo na ausência de astrócitos. Entretanto, a relação entre essas células se mostrou ainda mais intrigante ao descobrirem que os astrócitos estão relacionados com a complexidade de sinapses realizadas pelos neurônios. Assim, começaram a apontar a possibilidade dessas células gliais estarem envolvidas em “questões maiores” como a própria construção da consciência.

O modo com que uma célula auxilia a outra na construção das nossas complexas redes neurais ainda está para ser desvendado com maior detalhamento, entretanto, pesquisas confirmam cada vez mais o potencial das células da glia. Em 2014 uma pesquisa realizada em camundongos demosntrou a relação dos astrócitos na aprendizagem -processo intimamente relacionado com a construção de novas sinapses e redes neurais.




O experimento em questão consistiu no transplante de células progenitoras de astrócitos humanos no sistema nervoso de camundongos recém nascidos. Após o “enxerto”, o SNC dos camundongos se desenvolveu de modo que quase que a totalidade das células da macroglia eram células de origem humana, o que ocasionou alterações importantíssimas para a compreensão do funcionamento do Sistema Nervoso.

Dentre os resultados do experimento, foi observado que as células gliais humanas facilitaram a realização de um maior número de sinapses e também contribuiu para uma maior eficiência dos receptores (e.g AMPA) e neurotransmissores (e.g. glutamato). Além disso, testes comportamentais foram feitos e revelaram que os camundongos experimentais apresentavam uma maior capacidade de aprendizado e memória em quatro diferentes tarefas, incluindo testes que envolviam audição e condicionamento através de estímulos aversivos. Dessa forma, os astrócitos tornaram as sinapses mais eficientes e complexas. 

Assim, é seguro dizer que a presença das células gliais favoreceram aspectos cognitivos do cérebro dos camundongos tornando certos padrões semelhantes ao encontrados em humanos, corroborando a hipótese de que a evolução da complexidade cognitiva está relacionada com os astrócitos (Oberheim et al., 2006).

Por fim, após destrinchar um pouco mais o papel das células da glia na cognição humana, podemos dizer com certa segurança que levar em conta apenas os neurônios na construção do que somos é subestimar a complexidade do Sistema Nervoso. Os neurônios E as células da glia parecem delimitar quem somos e o que sentimos, assim, percebe-se que as pesquisas em neurociência precisam de uma nova abordagem. Em posts futuros vamos desenvolver ainda mais essa ideia de que todos os componentes são importantes para a real compreensão da consciência humana.

 Referências: 

HAN, Xiaoning et al. Forebrain Engraftment by Human Glial Progenitor Cells Enhances Synaptic Plasticity and Learning in Adult Mice. Cell Stem Cell, [s.l.], v. 12, n. 3, p.342-353, mar. 2013. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.stem.2012.12.015.


Bélanger M, Magistretti PJ. The role of astroglia in neuroprotection. Dialogues Clin Neurosci. 2009;11(3):281-95.

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Autor: Bruna Rezende
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