Como o coronavirus pode influenciar na Doença de Parkinson

Saturday, 02 de May de 2020

No meio a uma crise pandêmica, diversas oportunidades e desafios acabam surgindo em diversos setores sendo, a principal delas, a saúde. A neuromodulação, que já estava em amplo crescimento tecnológico e inserção no mercado da saúde, apresenta questões que, mediante a situação, podem ser revistas e otimizadas. Em uma dessas questões, temos a Estimulação cerebral profunda, conhecida por DBS, que pode ser otimizada com o uso do fMRI.


O DBS já é utilizado como tratamento para doença de Parkinson é também é visto para outras aplicações como, por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e depressão. Em outras palavras, o método é utilizado principalmente para transtorno do movimento, distúrbios neuropsiquiátricos e epilepsias. Por ser um processo invasivo, além da realização da cirurgia, devem ser considerados fatores como troca de bataria, ajuste na programação e manutenção preventiva e, por isso ocorrer nos hospitais, tem-se uma dificuldade em decorrência da situação atual.

Os centros médicos estão categorizando os procedimentos cirúrgicos no qual, a implantação do DBS é dada como um procedimento eletivo e, além disso, devido ao risco de contaminação e esgotamento dos hospitais, a assistência necessária para pacientes em tratamento com DBS é bastante dificultada. A grande questão é que a terapia pode apresentar interrupção em decorrência da bateria que tem um fim de vida, mau funcionamento, infecção pelos implantes, etc. A interrupção do tratamento pode ocasionar complicações nas enfermidades citadas podendo, por exemplo, levar até a fatalidade no caso Parkinson, pela Sindrome de abstinência de DBS, suicídios em pacientes com TOC e agravamento compulsivo em pacientes com epilepsia. Para isso não ocorrer, já existem tecnologias sendo implantas e alguns estudos em pesquisa e análise para inserção.

A manutenção necessária está associada a substituição rotineira do gerador de pulsos implantável (IPG), avaliação de complicações relacionadas ao hardware, ajuste de estimulação ambulatorial (programação) e gerenciamento de infecções. A neuromodulação já enxergou uma oportunidade, em relação a isso, pois agora faz o uso da Telemedicina para realizar essa assistência [1]. Isso é interessante para o futuro, visto que as lições aprendidas com a crise do COVID-19 pode ser utilizada para orientar o futuro no gerenciamento domiciliar desses pacientes. Como exemplo. uma inovação que foi lançada é um sistema que permite que os pacientes gerenciem o tratamento de DBS fazendo o uso de um smartphone. É uma oportunidade e visão para todos os dispositivos terem um equipamento semelhante, que permitam ao médico e usuário fazerem essa programação independente da ida ao hospital. Além disso, fazer o uso com fMRI proporciona o mapeamento completo e imparcial do padrão de ativação o que pode transmitir informações importantes no aplicativo, por exemplo, sobre os neuromoduladores[2].



Em relação ao processo de infecção, mesmo os materiais sendo biocompatíveis, uma inovação a ser observada refere-se ao tempo que o implante pode ser mantido e relacionar isso com o risco de infecção. Existem diversas tecnologias de biomateriais, como revestimentos, que podem gerar um tempo de vida útil maior do eletrodo, quando inserido no corpo humano.

Um dos grandes desafios é no uso da bateria, que tem tempo de vida útil e necessita de recarga, o que é um grave problema no meio a pandemia visto que é mais difícil ir ao hospital e caso a bateria acabe, o mesmo ocorre com a terapia de DBS. Inicialmente, é crucial ter dispositivos elétricos e não ter tantas aplicações com IPG não recarregável, exatamente para facilitar o processo. Para aumentar o tempo de vida dessas baterias, um trabalho apresentou resultados significantes visando modificar para um neuroestimulador com corrente constante recarregável (substituição do gerador de pulso implantável não recarregável de tensão constante (CV-nrIPG) pelo IPG recarregável de corrente constante (CC-rIPG). Mesmo já apresentando aplicação, o processo deve ter um forte envolvimento com a equipe neurológica [4].

Vale ressaltar que pacientes com doença de Parkinson tem maior propensão a ter pneumonia em decorrência da dispneia e disfagia [3] e, desta forma, quaisquer doenças que acometem as vias aéreas é pior para esses pacientes, fazendo com que estes entram no grupo de risco para o coronavirus . Morigushi et al. relataram encefalite associada ao COVID-19, que iniciou com crises epilépticas refratárias após 9 dias de sintomas respiratórios. Uma oportunidade, quando se tem o DBS ajustado, é o controle dessas crises através da neuromodulação.

Como sugestão, fica a possibilidade de associar a tecnologia já existente com uma análise proporcionada pela programação. Como será possível fazer o registro da atividade cerebral durante a terapia, a programação permite gerar um controle de malha fechada que pode captar os dados dos sinais e, através de um feedback, modular o neuroestimulador de acordo com os dados obtidos. A partir disso, com os dados é possível desenvolver um alerta que se enquadre com o protocolo de hospitais, para verificar o desempenho do neuroestimulador e gerenciar a ordem de prioridade de cirurgias, manutenções, trocas de materiais. Outra proposta está voltada para a troca por bateriais de íon de litío secundarias, para aplicações médicas, que podem ser carregadas enquanto permanecem implantadas [5]

Diversas inovações vêm sendo realizadas ao longo dos anos na tecnologia DBS, incluindo imagens pré-operatórias e intraoperatórias, atualização de equipamento, eletrofisiologia, materiais com maior biocompatibilidade. Entretanto, mesmo o DBS sendo de grande importância, deve-se incentivar o desenvolvimento de técnicas cada vez menos invasivas e alcançar não apenas a melhora nos sintomas, mas sim a modificação de doenças curativas.


Referências

[1] Miocinovic, Svjetlana & Ostrem, Jill & Okun, Michael & Bullinger, Katie & Riva Posse, Patricio & Gross, Robert & Buetefisch, Cathrin. (2020). Recommendations for Deep Brain Stimulation Device Management During a Pandemic. Journal of Parkinson's Disease. 1-8. 10.3233/JPD-202072.

[2] Siyuan Zhao et al., Mapeamento completo do padrão de ativação por estimulação cerebral profunda simultânea e fMRI com eletrodos de fibra de grafeno, Nature Communications (2020).

[3] Soh D, Lozano AM, Fasano A. Hybrid deep brain stimulation system to manage stimulation-induced side effects in essential tremor patient. Parkinsonism Relat Disord 2019;58:85–6.

[4] Sette AL, Seigneuret E, Reymond F, et al. Battery longevity of neurostimulators in Parkinson disease: a historic cohort study. Brain Stimul 2019. http://dx.doi.org/10.1016/ j.brs.2019.02.006

[5] Bock, David & Marschilok, Amy & Takeuchi, Kenneth & Takeuchi, Esther. (2012). Batteries used to Power Implantable Biomedical Devices. Electrochimica acta. 84. 10.1016/j.electacta.2012.03.057.

 

The content published here is the exclusive responsibility of the authors.

Autor:

Mouhamed Zorkot

#neuroscience #brainionicmovements #physiologyandbehavior #stimuluspresentations #brainstimulation #socialinteraction #eegfmri #responsedevices #neurophilosophy #riskanduncertainty #plasticityneurofeedbackneuromodulation #choicemechanisms #motivationemotioncraving #languageprocessing #eegactiveelectrodes #bienestarwellnessbemestar #semioticsresearch #neurocognition #attentionperceptionaction #attentioncontrolconsciousness #functionalconnectivity #executivelegislativejudgmentfunctions #sentienceconsciousness #decisionmaking #culturalneuroscience #inhibitorycontrolswitching #neuroscience #brainionicmovements #physiologyandbehavior #stimuluspresentations #brainstimulation #socialinteraction #eegfmri #responsedevices #neurophilosophy #riskanduncertainty #plasticityneurofeedbackneuromodulation #choicemechanisms #motivationemotioncraving #languageprocessing #eegactiveelectrodes #bienestarwellnessbemestar #semioticsresearch #neurocognition #attentionperceptionaction #attentioncontrolconsciousness #functionalconnectivity #executivelegislativejudgmentfunctions #sentienceconsciousness #decisionmaking #culturalneuroscience #inhibitorycontrolswitching