Português | Inglês
Um vídeo postado no Youtube, por um médico norte americano chamado Ryan Langdon, acabou viralizando e ultrapassando um milhão de acessos em menos de dez dias. No vídeo, o médico relata que ao saber que algumas pessoas não possuem um diálogo mental, passou a se questionar se outros indivíduos de fato fazem isso. Por isso, questionou se alguém a sua volta passava por esta situação.
Segundo ele, é como se as pessoas que experienciam este tipo de situação possuíssem uma diferente forma de comunicação cerebral que não seja a utilização de um diálogo interno, mas sim uma exposição interna de palavras, frases e imagens.
Após ir mais a fundo e buscar mais casos em suas redes sociais, ele percebeu que mais gente do que ele esperava sentia isso. Por este motivo, ele condensou boa parte de suas perguntas e realizou uma breve entrevista com uma de suas colegas, Kirsten Carlson, que relatou não ouvir nada em sua mente.
Um dos fatos que mais chamou atenção é que, de acordo com Kirsten, quando está escrevendo as frases tomam formas na sua cabeça, como se fossem mapas mentais, conectando as palavras umas às outras. Ela também afirmou que quando ela tenta se olhar no espelho, por exemplo, e falar consigo mesma, ela simplesmente verbaliza tudo aquilo que estava tentando dizer internamente, sendo impossível realizar esta atividade de falar algo mentalmente de frente ao espelho.
Ryan comenta que o intuito do vídeo é de chamar atenção para essa possível nova maneira de se falar com a consciência, promovendo assim a possibilidade de novos estudos a respeito disso.
Mas o que dizem os cientistas a respeito deste diálogo interno?
De acordo com um estudo publicado na revista Consciousness and Cognition (2018), a experiência de falar consigo mesmo é bastante comum nos humanos, sendo muitas vezes responsável por auxiliar na criação de planos, no processo de aprendizado e de fixação de memórias. Por outro lado, o conteúdo desses diálogos ou a quantidade de vozes que ouvimos podem ser bastante esclarecedores na detecção de psicopatologias como alucinações auditivas, depressão, ansiedade.
Na ocasião, os pesquisadores submeteram os voluntários a 35 perguntas a respeito da maneira como se comunicavam com sua mente, como por exemplo “Eu falo comigo mesmo de uma maneira crítica”, “Minha fala interior contribui para me sentir deprimido e deprimido”. As respostas às situações eram dadas em uma escala de 1 a 7, no qual, 1 indicava que aquilo nunca ocorria, enquanto 7 era realacionado a um evento que ocorria o tempo todo. Ao final da coleta, foi medida a frequência de resposta para cada uma das perguntas. Como conclusão, o estudo apontou que o conteúdo do diálogo que levamos com a nossa própria consciência podem sim contribuir na investigação de distúrbios e algumas doenças.
Vale salientar que, enquanto alguns estudos relacionam os diálogos internos com possíveis psicopatologias, outros inferem que tais vozes podem contribuir para o desenvolvimento humano e melhoria na autoconfiança do indivíduo, conforme foi publicado na Revista Européia de Psicologia Social no ano de 2014. O estudo concluiu que ao se referir às vozes na terceira pessoa (“você”), as nossas intenções e comportamentos tornam-se mais eficazes.
De posse dessa informação, não poderia deixar de comentar os grandes nomes das ciência mundial que nunca esconderam ouvir vozes em sua cabeça. O grande gênio da física Albert Einstein relatou que os primeiros insights com relação à teoria da relatividade surgiram quando ele ouviu sua voz interna. Outra personalidade de destaque é John Forbes Nash Jr, matemático, ganhador do prêmio Nobel de economia (1994) e inspiração para o filme “Uma Mente Brilhante”, que declaradamente conseguiu dominar o diálogo interno para trazer modificações à sociedade.
Gostou desse tipo de conteúdo? Clica aqui e saiba mais sobre a consciência e outros tópicos relacionados a neurociências.
Referências
ALDERSON-DAY, Ben et al. The varieties of inner speech questionnaire–revised (VISQ-R): replicating and refining links between inner speech and psychopathology. Consciousness and cognition, v. 65, p. 48-58, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053810018301090#b0075
DOLCOS, Sanda; ALBARRACIN, Dolores. The inner speech of behavioral regulation: Intentions and task performance strengthen when you talk to yourself as a You. European Journal of Social Psychology, v. 44, n. 6, p. 636-642, 2014.Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ejsp.2048
LANGDON,Ryan. Today I Learned That Not Everyone Has An Internal Monologue And It Has Ruined My Day. Inside my Mind. Disponível em: https://insidemymind.me/2020/01/28/today-i-learned-that-not-everyone-has-an-internal-monologue-and-it-has-ruined-my-day/
MEYNEN, Gerben. Wegner on hallucinations, inconsistency, and the illusion of free will. Some critical remarks. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 9, n. 3, p. 359-372, 2010.
The content published here is the exclusive responsibility of the authors.