Percepção e ação na infância

Wednesday, 17 de April de 2024
 

    A percepção e a ação
desempenham papéis fundamentais no desenvolvimento infantil, influenciando diretamente a forma como as crianças interagem com o mundo ao seu redor. Aqui, vamos discutir a relação da percepção e ação na infância e a importância de não limitar certas ações no intuito de estimular percepções importantes para o desenvolvimento, correlacionando com achados neurofisiológicos.  
 
    A percepção se refere à capacidade de interpretar e compreender as informações sensoriais recebidas do ambiente, enquanto a ação se relaciona com a capacidade de executar movimentos e comportamentos em resposta a essas informações. Durante a infância, a percepção e a ação estão intrinsecamente ligadas, uma vez que as crianças utilizam suas habilidades perceptivas para guiar suas ações e explorar o ambiente. Por exemplo, a capacidade de perceber a profundidade de um objeto pode influenciar a forma como uma criança decide se aproximar ou evitar esse objeto. Da mesma forma, a percepção da textura de um brinquedo pode influenciar a forma como a criança decide manipulá-lo.

    A infância até o início da adolescência são fases decisivas para o desenvolvimento neuropsicomotor  que repercute diretamente na neurofisiologia na fase adulta (imagem abaixo). Devido a exuberância sináptica, durante a infância é a fase na qual aprendemos com mais facilidade, ao mesmo tempo em que temos uma grande dificuldade de estabilizar nossas emoções. Entre os 4-3 anos já se inicia o processo de poda neuronal, que seleciona aquelas vias que irão permanecer no nosso cérebro e as que irão ser degradadas, de acordo com as áreas cerebrais mais e menos estimuladas. Já entre os 5-6 anos a criança já tem capacidade de pensar sobre o problema e determinar uma solução, assim como ela consegue distinguir o certo do errado. Dos 12 aos 13 anos as sinapses criadas durante a infância são "selecionadas". As que não são muito utilizadas desaparecem, enquanto as que são mais utilizadas se fortalecem através da mielinização. Além disso, trabalhos realizados com EGG mostraram que é no final da infância e no início da vida adulta que é mais eficiente a capacidade de integrar eventos percebidos e ações relacionadas decorrente de mudanças eletrofisiológicas no córtex parietal superior. Estímulos e ações são cognitivamente ligados a uma representação funcional comum, uma espécie de “arquivo de eventos”, que no final da adolescência, apresenta  uma maior capacidade de “desvinculação e religação” desses arquivos. Dessa forma, é nesse período plástico que a relação ação/percepção devem ser estimuladas para o desenvolvimento das capacidades funcionais e cognitivas.

FONTE: Dilcher et al., 2021



     Estudos recentes têm demonstrado a importância da integração entre percepção e ação no desenvolvimento infantil, sugerindo que as experiências sensoriais e motoras durante a infância desempenham um papel crucial na formação de habilidades cognitivas e motoras mais complexas. Além disso, a qualidade das interações sociais e do ambiente físico em que a criança está inserida também podem influenciar o desenvolvimento da percepção e da ação. Trabalhos relacionados a ações consideradas socialmente “erradas” durante a infância mostraram que abordagens mais empáticas e construtivas, como a comunicação não violenta e o reforço positivo, são mais eficazes na promoção de um desenvolvimento saudável e na formação de uma percepção positiva por parte das crianças. Ao invés de focar apenas nos erros e nas punições, deve-se buscar compreender as necessidades e os sentimentos por trás do comportamento da criança, promovendo um ambiente de diálogo e respeito mútuo.
Em resumo, a percepção e a ação desempenham um papel essencial no desenvolvimento infantil, influenciando não apenas a forma como as crianças interagem com o ambiente, mas também contribuindo para a aquisição de habilidades motoras, cognitivas e sociais. Portanto, é fundamental que pais, educadores e profissionais da saúde estejam atentos ao papel da percepção e da ação no desenvolvimento das crianças, promovendo experiências ricas e estimulantes que favoreçam o seu crescimento e aprendizado. Mais trabalhos relacionando o tema com dados da atividade elétrica cerebral com achados comportamentais são importantes para maior compreensão. 


Referências:

Dilcher, Roxane, et al. "Perception-action integration in young age—a cross-sectional EEG study." Developmental cognitive neuroscience 50 (2021): 100977.

Cohen Kadosh, Kathrin, et al. "Nutritional support of neurodevelopment and cognitive function in infants and young children—an update and novel insights." Nutrients 13.1 (2021): 199.

Adolph, K. E. (2008). Learning to move. Current Directions in Psychological Science, 17(3), 213-218.

Rochat, P. (2010). The innate sense of the body develops to become a public affair by 2-3 years. Neuropsychologia, 48(3), 738-745.

Gopnik, A. (2016). The gardener and the carpenter: What the new science of child development tells us about the relationship between parents and children. Farrar, Straus and Giroux.

Siegel, D. J., & Bryson, T. P. (2014). No-drama discipline: The whole-brain way to calm the chaos and nurture your child's developing mind. Bantam.
 

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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