Muitas pessoas já passaram por uma situação que envolveu muito medo e tristeza, no qual em alguns casos ficam marcados como evento traumático. Depois de um trauma, o que pode ocorrer com você?
Após um evento traumático, uma pessoa pode sofrer com angustia, ansiedade, reviver o evento, pesadelos frequentes, etc. Principalmente quando envolve sentimentos de medo, desamparo ou horror, podemos desenvolver o Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que causam “sequelas” após o evento. Após a ocorrência de uma agressão sexual, luta ou desastres naturais (como a pandemia do COVID-19), é possível que uma pessoa apresente sintomas negativos por anos ou até para a vida toda.
Estudos já descobriram condicionamentos modificados de medo, extinção e recuperação de extinção no TEPT , onde um dos pontos cruciais de um dos trabalhos foi perceber um déficit na extinção do medo em pacientes com TEPT. Entendendo melhor, o condicionamento do medo envolve levar uma pessoa a um ambiente novo e fornecendo um estímulo aversivo/adverso. Quando esse mesmo assunto é colocado em um novo ambiente, ocorre uma resposta de medo.
Existem diversas formas para investigar a atividade cerebral de pacientes com TEPT, sendo uma delas através de estudos da imagem. Pacientes com TEPT apresentam falha em consolidar o aprendizado da extinção e alguns estudos já sugerem que as interações da amígdala-vmPFC podem estar no centro dos distúrbios do TEPT, onde o medo condicionado persistente esta relacionado com uma diminuição da ativação do hipocampo e do vmPFC, além de maior ativação da amigdala.
Uma das terapias de grande destaque para o TEPT, é através da dessensibilização e reprocessamento do movimento ocular (EMDR), que consiste em acessar aspectos cognitivos, emocionais e físicos do sofrimento real a cenas traumáticas. Um estudo, em 2016, conseguiu restaurar o aprendizado normal e condicionamento e extinção do medo. Uma das linhas de pesquisa, que a neurociência também contribui, é realizando a análise através da ressonância magnética funcional (fMRI) antes e depois da terapia com EMDR para tentar consolidar melhor a hipótese que este realmente reduz os sintomas do TEPT.
Um estudo realizado conseguiu replicar a melhoria da aprendizagem da extinção do medo em pacientes com TEPT após a terapia com EMDR, o que trás resultados significativos visto que esses resultados não tinham sido atingidos novamente. A terapia permitiu verificar que a modificação da conectividade entre estruturas relacionadas em processar emoções e momória contribui para melhorar o desempenho comportamental dos pacientes e segurem que o aprendizado da extinção do medo, de pessoas com TEPT, dependem de modificações complexas das estruturas cerebrais e de circuitos do medo.
Como podemos sempre perceber, a neurociência está envolvida em todos os processos. Através de tecnologias que permitem avaliar e acessar o cérebro, podemos fazer com uma pessoa reduza os sintomas de traumas adquiridos ao decorrer da vida. Já pensou? Crianças e adultos, que passaram por situações marcantes e ficaram com sintomas de medo, ansiedade, dor e desespero, por exemplo, poderão ter acesso a uma terapia que visa amenizar esse sofrimento e proporcionar melhores condições de vida, mesmo após passar por eventos marcantes.
Referências
Pierre-François Rousseau, Sarah Boukezzi, René Garcia, Thierry Chaminade, Stéphanie Khalfa. (2020) Cracking the EMDR code: Recruitment of sensory, memory and emotional networks during bilateral alternating auditory stimulation. Australian & New Zealand Journal of Psychiatry, pages 000486742091362.
Dahlgren, M. K., Laifer, L. M., VanElzakker, M. B., Offringa, R., Hughes, K. C., Staples-Bradley, L. K., … Shin, L. M. (2017). Diminished medial prefrontal cortex activation during the recollection of stressful events is an acquired characteristic of PTSD. Psychological Medicine, 1–13.
Hortensius, R., Terburg, D., Morgan, B., Stein, D. J., van Honk, J., & de Gelder, B. (2017). The basolateral amygdalae and frontotemporal network Functions for threat perception. ENeuro, 4(1)
The content published here is the exclusive responsibility of the authors.