O que a neurociência tem a ver com futebol?

Sunday, 14 de July de 2019


Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

Vídeo da música: https://youtu.be/7Ie4oL17Nwc
A música do Skank fala de uma das MAIORES paixões dos brasileiros e de um dos esportes mais amados e populares do mundo: o FUTEBOL!

Recentemente, no Brasil, tivemos muita visibilidade para esse esporte, já que sediamos a Copa América e tivemos a participação da nossa seleção feminina na Copa do Mundo de Futebol, com bastante visibilidade para as diferenças de tratamento dos atletas e competições dessa modalidade em seus dois gêneros! 





Futebol dá o que falar! Mas e a neurociência nisso?

Bem, hoje vamos falar de neuropsicologia do esporte (com enfoque no nosso queridinho futebol, ok?)! A aprendizagem de esportes é super importante para o desenvolvimento da coordenação motora das crianças! Mas não é só isso, várias pesquisas mostram que o desenvolvimento dessas habilidades motoras influencia diversos fatores do desenvolvimento infantil! Um estudo, realizado no Ceará avaliou o desenvolvimento motor e o seu impacto na escola em grupos de crianças com baixo e alto desempenho. Os resultados são uma belezinha, porque mostraram o aumento no rendimento escolar dos dois grupos, bem como o desenvolvimento das habilidades motoras e até mesmo na autoestima das crianças! A ideia é que através do esporte e da evolução cognitiva e motora das crianças com os treinos fez com que elas se sentissem melhor em relação a si mesmas, o que as fez melhorar seu desempenho na escola. Isso tudo com crianças em situações de risco, com baixa renda e várias dificuldades sociais. Lindo pra pensar em políticas públicas e investimento, não é? Esporte deve ser obrigatório na escola, sim! E desde criança, pois além de trabalhar valores, ajuda no desenvolvimento cognitivo e no rendimento escolar! 

Além disso, você sabia que existe um Transtorno de desenvolvimento de coordenação? Atualmente, esse transtorno está associado a dificuldades cognitivo-motoras severas, bem como baixo rendimento escolar. Na verdade, em muitos casos, crianças com esse transtorno também apresentam outros transtornos de aprendizagem, como a dislexia e transtornos de desenvolvimento de linguagem. Os estudos nessa área ainda estão bastante em aberto, aparentemente, pois embora o diagnóstico inclua o baixo rendimento escolar como sintoma, muitas crianças com esse transtorno na verdade não possuem dificuldades em funções executivas ou baixo desempenho acadêmico. A neuropsicologia do esporte é uma área muito nova e imagino que deva crescer bastante nessa área, melhorando o diagnóstico no futuro!


Legal, mas e o nosso amado futebol?

Nesse simpósio de neuropsicologia do esporte, o último estudo apresentado foi um realizado com atletas de alto desempenho das categorias de base de um dos grandes clubes brasileiros (não foi revelado, mas confesso que fiquei curiosa rs). Eram jovens de 14 anos e alguns deles já são atletas da seleção brasileira sub-15 (ou seja, possivelmente nossos futuros ídolos dos gramados daqui a alguns anos). A ideia por trás do estudo? Bem, atletas de alto nível tem um alto desenvolvimento de coordenação motora, bem como um funções executivas bem desenvolvidas. Afinal, não é qualquer um que faz um gol desses né?

(inserir video do gol de caneta da seleção feminina: https://www.youtube.com/watch?v=61JBtvi3E48)


Craque é craque, né? São muitas decisões envolvidas numa partida de futebol! Tomar tanta decisão assim exige muito da nossa cognição! Agora, será que isso tem relação com o que chamamos de inteligência (entenda aqui como outras habilidades cognitivas e rendimento acadêmico, já que as funções executivas tem a ver com uma inteligência mais fluída). Essa foi a pergunta que moveu essa pesquisa. Dividindo os atletas por QI baixo (que foi a maioria), médio inferior ou médio superior, viram que esses jovens atletas tem funções executivas super desenvolvidas, mas inteligência reduzida. Particularmente, os jovens tem dificuldade com os testes relacionados a fluência, eles possuíam pouco vocabulário para diversas áreas. Contudo, a fluência para o futebol era ótima, afinal, esses meninos acordam, comem e dormem respirando futebol!

O interessante aqui é refletir sobre como isso tem relação com questões sociais! Boa parte desses jovens atletas vem de famílias de baixa renda, com diversas dificuldades na escola e baixo estímulo de desenvolvimento cultural e educacional. O futebol é pra eles a única esperança, muitas vezes, infelizmente. De toda forma, é importante que os clubes (e até mesmo os governos) invistam com mais cuidado nessas crianças, já que boa parte deles acaba não chegando a carreira profissional no futebol durante a idade adulta. O futebol é um máquina capitalista e muito eficiente nesse quesito de produção de atletas e a concorrência para o masculino é altíssima.

A pergunta que eu gostaria de deixar aqui é: será se o mesmo se repete na categoria feminina? A dinâmica de investimentos é completamente diferente, mas também é a competitividade e o acesso, o que talvez torne esses grupos bem diferentes. Outra pergunta: será se essa é a realidade de outros países? Ou será que é uma realidade só do Brasil? Será que o mesmo acontece nas categorias de base de outras modalidades?

Ficam essas perguntas para os futuros pesquisadores da neuropsicologia do esporte, essa área incrível que tem muito pra crescer ainda!

 

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Autor:

Mila Pamplona

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