NEURORESILIÊNCIA - O poder da compaixão para enfrentar a pandemia mundial

Wednesday, 01 de June de 2022

A compaixão implica na preocupação afetuosa com o sofrimento alheio e o desejo de aliviá-lo, portanto, ela pode ser oferecida tanto ao outro como à si mesmo. É possível desenvolver essa potencialidade interior com o tempo e estabelecer essas mudanças no nosso sistema nervoso.


A neuroresiliência se refere à utilização de princípios da neurociência para treinar o cérebro a se tornar mais resiliente. Dessa forma, é possível utilizar a neurociência para reforçar as conexões e circuitos neurais e tornar “a mente mais forte”. Dentre as diversas potencialidades interiores principais, temos a compaixão.
 
De acordo com a psicologia budista, a compaixão é uma das quatro Brahmaviharas, ou seja, atitudes plenas, que auxiliam para o bem-estar psicológico. As outras três são: amor-bondade, alegria empática e a equanimidade (tranquilidade de espírito) [2]. Para a psicologia moderna, a compaixão é "o sentimento que surge quando se testemunha o mal-estar (sofrimento, estresse) do outro (ou o próprio), e que gera a motivação ou desejo de ajudar (ou de se cuidar)" [3].
 
Dessa forma, através da compaixão é possível realizar o reconhecimento da dor e desejo de aliviá-la, tanto à nós mesmos quanto ao próximo. Estudos sugerem que, quando a compaixão é vivida, as áreas de planejamento motor do cérebro se preparam para a ação [4]. Sentir compaixão faz com que o nível de estresse diminua e o corpo acalme. Obter compaixão nos torna mais fortes e amplia a capacidade de respirar fundo, tomar fôlego, se equilibrar e seguir adiante.
 
Percebe-se, então, o quanto a compaixão é fundamental, pois, se não nos importarmos com o que sentimos e nem estivermos disposto a realizar algo para melhorarmos, qualquer esforço para se tornar mais feliz e resiliente não terá efeito algum.
 
A pandemia mundial está fazendo com que o pensamento no outro seja mais evidenciado. E isso é importantíssimo. Ter compaixão e dividir com os que têm menos são medidas louváveis e devem ser realizadas. Contudo, assim como nos comovemos com o sofrimento alheio, devemos está ciente e entender nossos sofrimentos também. Quem é a pessoa que você mais pode afetar senão você mesmo?
 
A importância da autocompaixão
 
Quando as pessoas estão bem consigo mesmas, elas costumam ser mais pacientes, cooperativas e afetuosas em seus relacionamentos. Ou seja, ter autocompaixão é primordial para ajudar o outro. Estando mentalmente fortalecido, podemos ajudar de forma mais eficaz o próximo. Não é atoa que numa despressurização no avião, quando as máscaras caem, você deve primeiramente colocar a sua máscara, para depois ajudar as outras pessoas.
 
A autocompaixão é difícil para muita gente, tal fato deve-se ao funcionamento do sistema nervoso. Nosso cérebro é projetado para ser alterado por nossas experiências, principalmente as negativas e aquelas que aconteceram na infância. É habitual internalizar a maneira como nossos pais e outras pessoas nos trataram e, posteriormente, passarmos a nos tratar da mesma maneira.
 
 
Potencialidade interior e o cérebro
 
Para cultivar qualquer potencialidade interior (recurso psicológico), como a compaixão, é necessário ter repetidas experiências até que se transformem em mudanças duradouras da estrutura ou da função neurológica. Logo, quanto mais vezes experimentamos essas experiências, mais recursos psicológicos serão internalizados. Então concentre-se no que é agradável durante as experiências, como o prazer de sentir calmo e relaxado, pois esse é um modo poderoso de reforçá-lo no cérebro e levar consigo essa potencialidade interior aonde quer que vá.
 
Se fosse possível patentear o prazer, todos os dias haveriam muitos anúncios desse produto nos veículos de comunicação. Experiências agradáveis diminuem os hormônios do estresse, tornando o sistema imunológico mais forte e ajudando a mitigar frustrações e preocupações.
 
Quando o prazer aumenta, se eleva a atividade de substâncias neuroquímicas importantes, como a dopamina, a norepinefrina e os opioides naturais. Em relação ao cérebro, circuitos nos gânglios da base utilizam desse aumento de dopamina para escolher e buscar ações que pareçam gratificantes. A norepinefrina auxilia na atenção e no engajamento. Numa aula que consideramos chata, buscar algo que seja agradável nos manterá acordado e nos deixará mais eficiente. A dopamina e a norepinefrina fazem a classificação das experiências como “dignas de conservar”, elevando a consolidação como recursos duradouros dentro do cérebro.
 
Como exercitamos nosso cérebro?
 
Diante tudo que foi exposto, como podemos realizar exercícios mentais para ser mais resiliente? Como posso ser uma pessoa mais compassiva?
 
Vivencie o que quer desenvolver em si - como a compaixão - e depois concentre-se nisso, possibilitando que o sentimento ganhe corpo e se eleve até se consolidar no seu sistema nervoso. Trabalhe a respiração. Medite. Lembre de experiências em que você teve compaixão com o outro e com você. Foque nas coisas agradáveis dessa experiência. Pratique isso com frequência.
 
Na turbulenta vida cotidiana moderna, preste atenção quando vivenciar uma atitude ou sensação de cuidado ou afeição em relação a si mesmo. Depois busque prolongar essa experiência por mais alguns instantes, sentindo-a no corpo, aprofundando-se nela enquanto a assimila.
 
Tenha sempre em mente que todos nós sofremos, enfrentamos doenças e mortes, perdemos entes queridos, nos frustramos. Todos precisam de compaixão. Coisas pequenas se acumulam ao longo do tempo. Portanto, podemos diversas vezes por dia mudar nosso cérebro para melhorar e se aprimorar. Foque nas pequenas oportunidades reais de prazer, presentes até na vida mais difícil. E mais importante: NÃO IMPORTA O QUE ESTÁ ACONTECENDO FORA DE VOCÊ, SUAS DIFICULDADES E LUTAS, É SEMPRE POSSÍVEL ENCONTRAR NA MENTE ALGO QUE LHE PROPICIE PRAZER, E UTILIZAR DESSAS EXPERIÊNCIAS POSITIVAS PARA SE AJUDAR E AJUDAR AO PRÓXIMO.
 
Referências
[1] HANSON, Rick; HANSON, Forrest. O poder da resiliência. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. 256 p.
[2] LAMA, Dalai. Lighting the path: The Dalai Lama teaches on wisdom and compassion. South Melbourne, Australia: Thomas C. Lothian. 2003.
[3] DEMARZO, Marcelo. O que é a compaixão segundo a psicologia? Tem a ver com mindfulness? 2018. Disponível em: https://mindfulnessparaodiadia.blogosfera.uol.com.br/2018/06/20/o-que-e-a-compaixao-segundo-a-psicologia-tem-a-ver-com-mindfulness/. 
[4] DAMÁSIO, António. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras, v. 33, p. 642-651, 2011.

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Autor: Eric Grabriel
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