NEURORESILIÊNCIA - Atenção plena e a capacidade de deixar estar, deixar ir e deixar entrar
Wednesday, 01 de June de 2022
Nosso cérebro é moldado pelas nossas experiências, que são moldadas pelo que voltamos a nossa atenção. Com a atenção plena, podemos repousar nossa atenção em experiências de recursos psicológicos, como compaixão e gratidão, cravando-as em nosso sistema nervoso.
Estar apto à enfrentar as dificuldades e em encontrar cura e bem-estar até nas situações mais difíceis é uma questão de ser bom em DEIXAR ESTAR, DEIXAR IR e DEIXAR ENTRAR. Vamos imaginar nossa mente como um grande jardim. Podemos tomar conta dele, basicamente, de três formas: observá-lo, extrair ervas daninhas ou cultivar novas flores. A base da nossa mente é o cérebro, que por sua vez é um sistema físico que não muda para melhor se não for estimulado.
O que significa então atenção plena? Ter atenção plena significa vivenciar o momento presente como ele é, a cada instante, sem ser influenciado por pensamentos, reflexões ou distrações. Diversos estudos sugerem que essa atenção diminui o estresse, protege a saúde e melhora o humor [3].
A atenção plena (mindfulness) pode ser entendida como um estado que abrange a atenção e a consciência, em que está de maneira intencional aberto às percepções das próprias experiências [2].
Nos tornamos aos poucos aquilo em que nossa atenção repousa. Conseguimos manter nossa atenção em múltiplas situações úteis e agradáveis em nosso dia-a-dia, atraindo-as para dentro de nós mesmos? Ou somos influenciados por preocupações, autocríticas e ressentimentos, tornando essas questões parte de quem somos?
Podemos aplicar a atenção plena tanto ao mundo interior quanto ao que ocorre à nossa volta. Portanto, devemos experimentar os sentimentos, viver as experiências, tanto as amargas quanto as doces. Mas então, como administrar essa situação toda?
Estamos numa época da chamada “cultura acelerada”, isso implica num fluxo enorme de informações, desempenho de diversas atividade ao “mesmo tempo”, ocasionando uma hiper estimulação. Além disso, estamos vivendo uma pandemia mundial. Diante desse cenário, o estresse, a ansiedade, a depressão e os traumas gerados dificultam a nossa concentração. Além disso, algumas pessoas são naturalmente mais distraídas do que outras. Devemos não nos deixar distrair ou dominar por essas experiências estressantes ou perturbadoras e a neurociência pode ajudar nisso.
Através da atenção plena podemos regular a atenção de forma a extrair o máximo das experiências positivas e limitar o impacto das negativas e estressantes. Compreender sobre a atenção plena é compreender para onde nossa atenção se encaminha. Logo, com atenção plena, cultivamos as lembranças ao invés do esquecimento, e nos tornamos serenos e integrados em vez de dispersos.
Potencialidade interior e o cérebro
Nosso sistema nervoso foi projetado para ser alterado pelas experiências (o que chamamos de neuroplasticidade dependente da experiência) e essas experiências são dependentes do foco da nossa atenção. Para transformar experiências em potencialidades interiores é preciso convergir a atenção numa experiência por tempo suficiente para que ela comece a se enraizar no sistema nervoso. Vale ressaltar que o conhecimento sobre o passado auxilia a conhecer melhor o presente e a cuidar melhor das necessidades futuras.
Em relação ao nosso cérebro, o tronco cerebral enfoca a segurança e em sua essência está a necessidade mais fundamental de todas: manter-se vivo. O subcórtex, que contém o hipotálamo, o tálamo, a amígdala, o hipocampo e os gânglios da base, nos ajuda a ser mais eficientes na busca de satisfação. O neocórtex, que permitiu que os seres humanos se tornassem a espécie mais social do planeta, é a base neurológica da empatia, da linguagem, do planejamento cooperativo e da compaixão, formas sofisticadas de satisfazer nossa necessidade de conexão.
Como posso exercitar o meu cérebro e praticar a atenção plena?
Tente reduzir as distrações - não permita que as outras pessoas, situações ou o mundo externo agitado à sua volta os tomem sem que você queira.
Tente diminuir seu ritmo e realizar uma tarefa de cada vez, com atenção total.
Inclua a atenção plena em seu dia a dia. Foque na respiração enquanto conversa com outra pessoa ou realiza tarefas. Isso auxiliará em conservar você focado em si e no momento presente.
Medite. Qual a melhor meditação? É aquela que a pessoa realmente pratica com regularidade. Descubra o que funciona pra você.
Encontre refúgio. Um refúgio é algo que o proteja, ampare e/ou estimule. Um animal de estimação, outras pessoas, lugares, a sensação de algo sagrado ou divino podem ser um refúgio para você. Quando encontrar seu refúgio, desacelere. Tenha ciência do que experimenta nesse refúgio - talvez relaxamento, tranquilidade, alívio.
Foque em pensamentos úteis, substituindo os que forem errados e prejudiciais. Tente ter consciência das necessidades ou seus aspectos que não foram atingidos. Escute os desejos de seu coração.
Propicie algum prazer a si mesmo: assista ao filme ou a série que gosta, escute a música que ama, jogue video game. O prazer libera opióides naturais que tranquilizam e acalmam o mecanismo de estresse do cérebro.
Durante o dia, esteja consciente das necessidades de:
SEGURANÇA: Observe quando se sentir pouco à vontade, irritado ou sobrecarregado.
SATISFAÇÃO: Esteja consciente de sentimentos de tédio, desapontamento, frustração ou perda.
CONEXÃO: Observe quando sentir mágoa, ressentimento, inveja, solidão ou inadequação.
Saúde é a consequência natural de zelar pelas próprias necessidades e de estar vigilante às necessidades dos outros. Devemos ter consciência de quando estivermos começando a se sentir pressionado, inquieto, frustrado, estressado ou irritado. Defina as experiências para si mesmo: tenso, preocupado, incomodado, triste. Isso eleva a atividade no córtex pré-frontal, que auxilia no autocontrole de cima para baixo. Dizer a si mesmo o que está sentindo também diminuirá a atividade na amígdala, que funciona como o alarme do cérebro, e vai ajudá-lo a se acalmar.
Referências
[1] HANSON, Rick; HANSON, Forrest. O poder da resiliência. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. 256 p.
[2] PIRES, Jeferson Gervasio. Construção e busca de evidências de validade de uma medida de atenção plena para adultos. 2016. 166 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
[3] SOUZA, Rita de Cássia de; SILVA, Luiza Bontempo e. PRÁTICAS DE ATENÇÃO PLENA NO ENSINO SUPERIOR: relato de experiências no México e no Brasil. Pedagogia em Ação, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p.115-132, nov. 2018.
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