NEUROCIENCIA, MÚSICA E DESENVOLVIMENTO CEREBRAL: Não só emoções.

Friday, 16 de October de 2020
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Tal e como podemos ver aqui na Brain Support, cada vez estamos mais perto, graças à tecnologia, de entender como o cérebro funciona e como diferentes estímulos do meio que nos rodeia influenciam nossas atitudes e estados cognitivos.
O processamento musical é um desses estímulos que influenciam diretamente em diversos estados da nossa consciência, desde estados emocionais, até estados mais racionais, ativando nossa consciência auto reflexiva, por exemplo.

 

NEUROCIÊNCIA E MÚSICA, UMA RELAÇÃO MUITO ESTREITA.

 As vibrações sonoras que “sentimos” graças a sua propagação pelas moléculas de ar, provocam excitações em nossas células receptoras ciliadas do ouvido interno e chegam até nosso tronco cerebral, importante estrutura para a execução de tarefas básicas como o controle da frequência cardíaca ou a respiração, entre outras. Essas vibrações, quando entram em diferentes harmonias (o que chamamos de música), são capazes de ativar e mobilizar diversas regiões cerebrais, tanto as mais desenvolvidas filogeneticamente falando (neocórtex), quanto às mais primitivas (o cérebro reptiliano), já que a tonalidade, o ritmo ou a letra são elementos interpretados por distintas áreas do cérebro. 

Assim como provavelmente já devem ter ouvido ou lido alguma vez, cada hemisfério é mais ou menos responsável por diferentes tarefas cognitivas, o hemisfério direito seria o responsável por as habilidades mais criativas, “intuitivas” ou artísticas, e o hemisfério esquerdo seria o responsável pelas funções mais racionais ou lógicas. 

Tal distribuição  confirmaria o cérebro musical descrito por Mauro Muszkat, médico e pesquisador, onde há uma diferenciação hemisférica para processar a música, o hemisfério direito seria predominante para discriminar o contorno melódico (o conteúdo emocional da música) e o hemisfério esquerdo seria mais responsável pela métrica e o ritmo (a sintaxe ou a parte mais “lógica” da harmonia).

 

Na grécia antiga, a música era estudada como uma ciência, onde eram abordadas desde questões acústicas até matemáticas. Na idade média, a música, junto com a aritmética, a geometria e a astronomia compunham o Quadrivium, um dos grupos das sete artes liberais, onde o Trivium completava as três disciplinas restantes, a gramática, a retórica e a lógica, sendo estas as ramas principais do conhecimento que eram impartidas nas escolas da época. Então será que a música é um importante pilar na educação mesmo?

Pois é, diferentes circuitos neuronais são ativados graças à música, já que a percepção e o aprendizagem musical requer e recruta diferentes regiões cerebrais, aumentando a sinapses entre elas.

Além disso, diversos estudos pelo mundo todo em lugares como Harvard ou Oxford, com ajuda da nossa amada neuroimagem, também afirmam que a música tem a capacidade de aumentar a neuroplasticidade cerebral.

 


MAS ENTÃO COMO INFLUÊNCIA A MÚSICA NO NOSSO DESENVOLVIMENTO?

 

Assim como a alimentação, a música é crucial no nosso período de desenvolvimento cerebral, principalmente nos primórdios dos nossos dias, até os três anos de idade. 

A música ajuda no desenvolvimento da coordenação, equilíbrio, atenção e sensibilidade, além de auxiliar no aprendizagem da matemática e a linguagem. Assim o afirmam diferentes pesquisadores como Rauscher na publicação da revista Natura, ou Gardner (sim, o psicólogo que desenvolveu a teoria das inteligências múltiplas). Da mesma forma, Campbell (2001) afirma que quantos mais estímulos receba uma criança através da música, mais “inteligente” o mesmo será, já que os sistemas que usa o cérebro para processar as unidades estruturais da mesma, são os mesmos que utiliza para a percepção, a memória e a linguagem.

Em um estudo realizado na Universidade da Flórida, os alunos que tiveram aulas de apresentação musical e apreciação da música, obtiveram pontuações maiores nos exames de SAT (um teste educacional padronizado nos Estados Unidos para o ensino médio), apresentando uma média de 61 pontos mais na área verbal e 42 na matemática. 

Por outro lado, existem diversos estudos que relatam o efeito Mozart, que seria uma série de benefícios proporcionados pelo fato de escutar a musica do compositor austriaco nas idades mais tempranas de nosso desenvolvimento, incluindo a fase de gestação.

 


Mas a música não só nos ajuda no nosso desenvolvimento nas primeiras fases da vida, influencia positivamente em diversas etapas da nossa existência, tendo diversas aplicabilidades. Ela estimula as emoções e as conexões afetivas, harmonizando estados de ânimo negativos (há 2500 anos, Pitágoras costumava usar certas escalas e acordes para atingir o equilíbrio mental e recomendava determinadas melodias para ajudar emocionalmente a seus alunos) podendo assim, a música ser utilizada até de forma terapêutica para diversas alterações neurológicas como afasia, autismo ou dislexia.

Poderia falar ainda um sem fim de benefícios que a música traz para nós, porém fica para outro dia. Desta forma irei finalizar com o pensamento que Platão sustentava:


A música cumpre para a alma o que o exercício para o corpo. 

E você? Da o valor necessário para a música?  



Referências: 

Thaut, M.H., J.C. Gardiner, D. Holmberg, et al. 2009. Neurologic music therapy improves executive function and psychosocial function in traumatic brain injury rehabilitation. Ann. N. Y. Acad. Sci. Neurosciences and Music III–Disorders and Plasticity. 1169: 406– 416.

CABRERA MOSQUERA, I; Influence of music on emotions: a brief review, 2013.

TRIMBLE,M; HESDORFFER, D; Music and the brain: the neuroscience of music and musical appreciation, 2017.

 
ROCHA, Viviane Cristina da; BOGGIO, Paulo Sérgio. A música por uma óptica neurocientífica. Per musi,  Belo Horizonte ,  n. 27, June  2013 .

 
 

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Autor:

Erika Maria Garcia Cerqueira

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