A música faz parte da nossa rotina e pode marcar muitas etapas de nossas vidas. Quem nunca ouviu algo e lembrou de uma situação ou de uma pessoa? Quem nunca escutou uma música e sentiu uma emoção forte?
Seriam alguns sons capazes de nos ajudar na superação de traumas em crianças com histórico de abandono?
Não é de hoje que o conjunto de sons que formam uma música são estudados pela neurociência. A chamada musicoterapia é reportada na literatura desde a década de 90, trazendo resultados interessantes no tratamento de algumas doenças e na compreensão do cérebro humano.
De acordo com um estudo realizado por Su et al. (2017), adultos que tiveram um histórico de abandono tendem a ser mais inseguros, demonstrar menos seus sentimentos e ter alguns problemas de comunicação, o que pode afetar diretamente o seu futuro.
Em um recente trabalho publicado na Nature, pesquisadores de uma universidade chinesa buscaram relacionar a música como um tratamento para redução de danos aos adultos que passaram por tal situação na infância. Para que esse estudo fosse possível, os cientistas contaram com a participação de 24 voluntários que residiram com avós ou outros familiares até os 12 anos de idade.
No estudos, os voluntários foram divididos em dois grupos: controle e experimental. No grupo controle, os voluntários não receberam musicoterapia, enquanto no experimental os sujeitos receberam tratamento da musicoterapia durante um mês e duas semanas.
O EEG de 20 canais foi utilizado para registrar atividade cerebral em três momentos no estudo para os grupos controle e experimental. O primeiro momento foi antes da aplicação do tratamento, em que foi coletada atividade em repouso durante 5 minutos, depois de um mês, houve uma nova coleta de atividade em repouso e, por fim, duas semanas depois da última coleta.
Utilizando os dados obtidos pelo EEG, os cientistas perceberam que a onda theta dos traçados pré, durante e pós tratamento no grupo controle foram as únicas que se modificaram significativamente, não havendo alterações significativas no grupo controle .
Analisando os mapas obtidos, foi possível inferir que a maior ativação cerebral antes do tratamento estava na região pré-frontal, responsável pelo controle das emoções e relacionado aos sentimentos negativos como ansiedade e depressão. Após o tratamento, a região de maior ativação cerebral se deslocou para a porção temporal e occipital.
Dessa forma, o estudo concluiu que utilizar a música como terapia foi eficaz para modificar a prevalência das emoções expressas nos traçados do EEG, especificamente na onda theta. Isto é, os sentimentos negativos diante da situação do abandono infantil foram amenizados no grupo controle do experimento.
Extrapolando as ideias do experimento tratado, poderia a música e o EEG serem utilizados para atenuação de danos em populações com vulnerabilidade? Seria esse conjunto capaz de minimizar dores? Além do mais, poderíamos, quem sabe, fazer uso de sons e EEG para comunicação de pessoas com afasia ou com distúrbios da fala?
O EEG pode proporcionar os mais diversos desenhos experimentais, trazendo sempre novos conhecimentos para a neurociência. Se tem uma ideia de desenho experimental, mas está com dificuldade de realizá-lo, entre em contato conosco para que possamos auxiliá-lo.
Referências
HELLER, Aaron S. et al. Increased prefrontal cortex activity during negative emotion regulation as a predictor of depression symptom severity trajectory over 6 months. JAMA psychiatry, v. 70, n. 11, p. 1181-1189, 2013.
SU, Shaobing et al. Future orientation, social support, and psychological adjustment among left-behind children in rural China: A longitudinal study. Frontiers in psychology, v. 8, p. 1309, 2017.
TIAN, Yin et al. The Influence of Listening to Music on Adults with Left-behind Experience Revealed by EEG-based Connectivity. Scientific Reports, v. 10, n. 1, p. 1-10, 2020.
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