Nos últimos anos uma área que têm recebido bastante atenção na comunidade cientifica é sobre como o cérebro detecta e responde à ameaças. Isso tem sido um fator-chave, para compreensão de distúrbios de medo e ansiedade. Com isso, tratamentos e terapias vem sendo criadas com base nesses estudos, com resultado promissores no tratamento de transtornos relacionados a ansiedade. Mas, então, como a neurociência contribuiu nisso?
Os termos "medo" e "ansiedade" são usados de maneiras variadas. O medo, na maioria das vezes se refere a um estado subjetivo, um sentimento que experimentamos quando somos ameaçados. No entanto, também descreve comportamentos como: expressões faciais, congelamento, fuga, etc. Além disso, ele também envolve alterações fisiológicas, como taquicardia, sudorese, etc. Já a ansiedade acompanha praticamente os mesmos sintomas só que de forma mais “exagerada” e ela age antecipando um perigo futuro. Sendo assim, poderíamos diferencia-los dizendo que o medo ocorre quando a fonte do dano, a ameaça, é imediata ou iminente, e a ansiedade quando a fonte de dano é incerta ou distal no espaço ou no tempo.
Acredita-se desde muitos anos que existe um "sistema de medo" inato no cérebro dos mamíferos e que esse sistema, na presença de uma ameaça, gera tanto o sentimento consciente de "medo" quanto respostas fisiológicas e comportamentais típicas dessa experiência. E esse sistema envolve tanto áreas corticais (para resposta consciente) como áreas subcorticais (amigdala por exemplo).
O medo é descrito como uma função inata das áreas subcorticais do cérebro (especialmente amigdala). Essa visão baseia-se na ideia de que os humanos herdaram dos animais certas emoções básicas universalmente expressas. Funciona mais ou menos assim – a presença de uma ameaça ativa imediatamente o núcleo lateral da amígdala, que por meio de conexões com o núcleo central da amígdala inicia a expressão de reações comportamentais defensivas, como o congelamento, e reações fisiológicas defensivas (de prevenção por exemplo). E, Por meio das conexões da amígdala lateral com a amígdala basal e do núcleo accumbens as ações defensivas são controladas e moduladas. Embora os componentes principais desse circuito sejam subcorticais, a capacidade dos circuitos de controlar reações e ações de defesa é modulada por certas áreas corticais (por exemplo, córtex pré-frontal medial ventral e hipocampo podem modular essas ações). Sendo assim, as pessoas com danos na amígdala não exibem reações corporais às ameaças!
Estudos funcionais de imagem mostram que em condições de ameaça a amigdala é ativada mesmo em pessoas saudáveis. Além disso é possível perceber uma ativação exagerada da amígdala em pacientes com transtornos de ansiedade. Também sabemos que as áreas corticais mediais regulam negativamente a amígdala em humanos saudáveis e em pessoas com transtornos de ansiedade essa capacidade é enfraquecida, ou seja, A AMIGDALA TEM PAPEL FUNDAMENTAL NOS CIRCUITOS DE MEDO E ANSIEDADE!
Além disso, pesquisas envolvendo eletroencefalografia (EEG) têm estudado a conectividade funcional de pessoas com distúrbios de ansiedade. Com isso, compararam participantes com baixa característica de ansiedade com participantes com alta característica de ansiedade e mostraram uma diminuição da conectividade teta entre o mPFC direito e o PCC / Rsp direito e uma diminuição da conectividade beta entre o mPFC direito e o ACC direito. Além disso, esses estudos também perceberam que os resultados estavam alinhados com estudos anteriores de ressonância magnética que relatam uma diminuição da conectividade funcional da DMN em indivíduos com ansiedade de alto traço. Portanto, a eletroencefalografia tem contribuído bastante em estudos envolvendo ansiedade, como também outros distúrbios do sistema nervoso.
Referências
IMPERATORI, Claudio et al. Default mode network alterations in individuals with high-trait-anxiety: an EEG functional connectivity study. Journal of Affective Disorders, v. 246, p. 611-618, 2019.
HUR, Juyoen et al. Dispositional negativity, cognition, and anxiety disorders: An integrative translational neuroscience framework. In: Progress in brain research. Elsevier, 2019. p. 375-436.
LEDOUX, Joseph E.; PINE, Daniel S. Using neuroscience to help understand fear and anxiety: a two-system framework. American journal of psychiatry, 2016.
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