Efeitos da fadiga mental em soldados

Saturday, 02 de May de 2020

Fadiga mental é um fenômeno psicobiológico resultante da carga cognitiva-atencional por longos períodos. A dinâmica de várias profissões pode induzir fadiga mental. Soldados podem ter seus desempenhos prejudicados por esse fenômeno?

Fadiga mental é um fenômeno psicofisiológico que ocorre quando há submissão a uma extensiva carga de atividades cognitivas, sobretudo que demandem alta capacidade atencional. Várias atividades cotidianas podem provocar fadiga mental, como dirigir, ler por várias horas e trabalhar ao computador por longo tempo. Logo, considerando as atuais demandas de trabalho existentes, a fadiga mental parece ser um fenômeno cotidiano.

Os principais efeitos físicos da fadiga mental são a sensação de cansaço e diminuição do desempenho físico, como já indicado em atletas. Além disso, há prejuízos sobre as demandas cognitivas, como a diminuição da velocidade de reação a acurácia. Nesse sentido, quando pensamos em profissões que apresentam demandas físicas e cognitivas de forma simultânea, os efeitos negativos relacionados à fadiga mental podem ser ainda piores.

Nesse sentido, podemos elencar como uma das profissões onde a demanda física e cognitiva são paralelas a de soldados e policiais. Em situações de guerra, por exemplo, a dinâmica de combate poderá ser altamente imprevisível, envolvendo momentos em que os soldados poderão se envolver em fogo cruzando, necessitando de deslocamentos rápidos e processamento de informações, por tempo indeterminado. Policiais, por outro lado, estão frequentemente envolvidos em contextos urbanos, onde a necessidade de deslocamento também é presente, além das constantes tomadas de decisão necessárias para que civis não sejam prejudicados. Portanto, parece claro que o cenário de embate requer uma alta demanda cognitiva-atencional de militares, o que, consequentemente, poderá levar a um cenário de fadiga mental.

No objetivo de investigar os potenciais prejuízos provocados pela fadiga mental sobre pontaria de soldados, Head e colaboradores submeteram 20 soldados da infantaria dos Estados Unidos, com extensivo treinamento em fuzil de pontaria, a duas condições experimentais, ambas com duração de 42 minutos: i) assistir a um vídeo (condição controle); ii) realizar o Sustained Attention to Response Task (condição fadiga mental). Em ambas condições foram também mensuradas carga de trabalho percebida (NASA-TLX) e a variabilidade da frequência cardíaca. Como desfecho principal, foi realizada uma tarefa de pontaria de tiro a silhuetas (figura abaixo), envolvendo estimulos de alvo (silhueta com a letra “T”) e não-alvo (silhuetas com “7”).

Fonte: doi: 10.3389/fphys.2017.00680

Os resultados mostraram uma piora nos tempos de reação de tiros corretos e mais erros por omissão (não atirar quando necessário) ao longo do tempo, quando os soldados estavam mentalmente fadigados, além de mais erros de comissão (tiros realizados inapropriadamente) em relação a condição controle. Foram encontradas também piora nas respostas do Sistema Nervoso Autonômico (variabilidade da frequência cardíaca) e grande carga de trabalho mental subjetivamente relatada, na condição fadiga mental. Os autores concluem que a fadiga mental pode prejudicar a precisão de tiros e controle motor fino.

De maneira geral, os resultados também indicam uma piora nos elementos ligados a tomada de decisão (tempo de reação, omissão e comissão), o que pode prejudicar seriamente a atuação de uma militar, sobretudo em situações de alto estresse, como guerra. Considerando que a própria dinâmica profissão já imprime uma carga cognitiva-atencional alta, a ação final do soldado está potencialmente prejudicada. Em cenários urbanos, onde há diversos outros elementos envolvidos (ex.: civis trafegando, comércios abertos), o prejuízo da tomada de decisão pode ter proporções ainda piores, como o tiro em um inocente.

Futuros estudos devem buscar abordagens mais ecológicas de investigar os efeitos da fadiga mental em militares, como utilizar cenários de realidade virtual ou situações fictícias de combate. Além disso, a compreensão da hemodinâmica envolvida em situações de fadiga mental, sobretudo na região frontal do cérebro, se faz importante para melhor compreensão desse fenômeno.

 

Referência:

Head et al. (2017). Prior Mental Fatigue Impairs Marksmanship Decision Performance. Frontiers in Physiology. Doi: 10.3389/fphys.2017.00680


 

The content published here is the exclusive responsibility of the authors.

Autor:

Heloiana Faro

#skilllearning #attentioncontrolconsciousness #stresslearningbullying #decisionmaking #skilllearning #attentioncontrolconsciousness #stresslearningbullying #decisionmaking