A todo momento somos bombardeados por um conjunto de informações visuais, auditivas, táteis, gustativas e olfativas. Elas nos trazem cargas de conteúdo emocional, cognitivo e sensorial, podendo ser descartadas em um curto período de tempo, armazenadas por muito tempo ou por toda a vida. Neste artigo, vamos compreender um pouco mais sobre as bases neurais da memória e aprendizagem.
A neurobiologia da memória foi estudada em 1920 pelo psicólogo norte-americano Karl Lashley (1890- 1958). Por meio de experimentos laboratoriais, Lashley comparou ratos saudáveis com animais submetidos à lesões cerebrais, seu principal objetivo era entender onde o cérebro armazena informação, região que o pesquisador denominou de Engrama. Lashley submeteu os animais a testes em labirintos e percebeu que os animais saudáveis aprendem a sair do labirinto a medida que eram expostos ao mesmo ambiente de treino. Entretanto, os ratos com lesões cerebrais não conseguiam aprender independente da região cerebral afetada. Com isso, Lashley concluiu que a memória era armazenada em diversas regiões corticais. Entretanto, Lashley fez análises equivocadas, pois os animais não concluíram os testes em virtude de déficits visuais, auditivos e sinestésicos provocados pela lesão.
Mais tarde, em 1940, Donald Hebb mostrou em seus estudos que a memória era uma propriedade distribuída, assim como previa Lashley. Entretanto, estava associada a áreas específicas que seriam evocadas. Para Hebb, um evento poderia ser percebido por uma pessoa e poderia ativar redes neurais visuais, auditivas, motoras, e quando evocado (lembrado) poderia reativar essas mesmas vias nervosas. Portanto, Hebb concluiu que quando redes neurais são estimuladas frequentemente e engajada em tarefas, elas se ativam com maior facilidade o que facilita o processo de aprendizagem, o mesmo ocorre quando a mesma deixa de ser estimulada, que passa a atrofiar.
Para compreender como ocorre o processo fisiológico das bases neurais da memória é necessário entender o seu conceito. Para tanto, entende-se por memória como a capacidade de reter informações.
O primeiro processo mnemônico é a aquisição de informações, ou seja, a percepção de um evento, sendo este caracterizado como qualquer informação que seja percebido por nós. Os eventos podem estar relacionados ao mundo externo (objetos, músicas, aromas, situações, pessoas) ou ao mundo interno (pensamentos e emoções).
O segundo processo mnemônico é a retenção, sendo esta classificada de formas distintas, a memória quando relacionada ao tempo de retenção da informação pode ser: ultra rápida ou imediata, de curto prazo ou de longo prazo. A memória ultra rápida é retida apenas por segundos, a de curto prazo ou curta duração é apenas retida por minutos ou horas, já a memória de longo prazo pode ser retida por meses ou anos. De certa forma, sempre haverá a perda de algumas informações, o que caracteriza o esquecimento. Este também é um processo natural fisiológico que evita a sobrecarga de informações. Entretanto, o esquecimento constante é denominado amnésia, que pode ser sugestivo de patologias neurodegenerativas, como o Alzheimer, e a retenção exacerbada é a hipermnésia.
A memória também pode ser classificada quanto à natureza, em: memória explícita (declarativa), memória implícita (não declarativa) e memória operacional (trabalho). A memória explícita é evocada por meio de símbolos ou frases, a memória implícita é evocada por situações cotidiano e a memória operacional que é temporária e fundamental para a realização de tarefas cotidianas. Sabe-se atualmente que o córtex pré-frontal está relacionado a memória operacional, ele é responsável pelas atividades cognitivas superiores.
O terceiro processo mnemônico é a consolidação, caracterizado pela retenção prolongada da informação ou de forma permanente.
O último processo é a evocação, também denominada lembrança. Ocorre principalmente quando ativamos circuitos neurais já consolidados. A evocação da memória é um processo importante para o ser humano. Ela nos permite reviver emoções e sentimentos. É também o que caracteriza o nosso processo de aprendizagem.
Neste sentido, entende-se por aprendizagem o processo de retenção de informações que serão armazenadas na memória. A aprendizagem difere da memória, pois ela molda o nosso comportamento, as nossas ações e os nossos pensamentos. A memória, entretanto, consiste apenas na retenção de informações.
A aprendizagem pode ser classificada do tipo associativa e não-associativa. A aprendizagem associativa foi estudada pelo fisiologista russo Ivan Pavlov na metade do século 20, que demonstrou por meio de experimentos com cães o condicionamento clássico por meio de estímulos visuais. Neste tipo de aprendizagem, os cães associavam a presença de um estímulo luminoso ao alimento e começavam a salivar. Para tanto, estudos posteriores mostraram também um outro tipo de aprendizagem associativa denominada de condicionamento operante, que se caracteriza pela associação entre um estímulo e uma ação comportamental que pode estar relacionada a uma experiência positiva (recompensa ou reforço) ou uma experiência negativa (punição).
Referências
Roberto Lente. Cem bilhões de neurônios. Conceitos Fundamentais de neurociência. Kandel. Princípios da Neurociência
Eric R. Kandel, James H. Schwartz, Thomas M. Jessell, Steven A. Siegelbaum, A. J. Hudspeth. Princípios de Neurociências. edição.
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