O treinamento de Boxe pode apresentar diversas desvantagens devido o repetido impacto de golpes sofridos na região do crânio. Mas quais as adaptações neuroelétricas ocorrem com a prática?
A prática de
artes marciais vem sendo apontada como positiva e benéfica ao longo dos anos. Diversas habilidades psicossociais e cognitivas são trabalhadas e aprimoradas pelo contexto interno ao qual essas práticas corporais são desenvolvidas. De maneira geral, muitas dessas artes são um regime espiritual de crescimento, baseado nos preceitos de antigos guerreiros japoneses chamados
Samurais. Nos últimos anos, muitas dessas artes marciais adotaram um perfil mais esportivo, sendo então treinadas para objetivos competitivos.
No contexto dos esportes de combate, o boxe é um destaque, pois é uma prática que remete a Grécia Antiga e as Olimpíadas. Sua dinâmica consiste em acertar golpes no adversário com o punho, tendo como principais alvos a cabeça e o tronco.
Como já vimos anteriormente, ao longo do tempo o trauma repetido no crânio pode provocar danos irreversíveis às microestruturas cerebrais e expõe seus praticantes ao risco a
doenças neurodegenerativas.
Por outro lado, diversos estudos vêm mostrando que a prática esportiva pode
aprimorar diversas capacidades cognitivas altamente relevantes a saúde mental. Nesse sentido, esportes de contato, como é o caso do boxe, apresentam-se em uma encruzilhada entre benefícios e malefícios. Do ponto de vista esportivo, essa dúvida é ainda mais imponente, considerando que o alto rendimento tenta extrair sempre o máximo do atleta, muitas vezes desconsiderando o risco envolvido.
Do ponto de vista cognitivo, o boxe demanda diversas habilidades, considerando a demanda técnico-tática envolvida na prática. Os movimentos de defesa e ataque demandam alta capacidades antecipatória,
controle inibitório e
atenção. Uma
tomada de decisão errada pode representar chance de receber golpes com muita contundência. Desse modo, parece coerente pensar que boxeadores aprimoram importantes capacidades cognitivas, como a atenção. Nesse sentido, Ziólkowski et al. conduziram um estudo afim de verificar a dinâmica neuroelétrica cerebral e a capacidade atencional/concentração de boxeadores. Foram recrutados 36 boxeadores e 52 estudantes (grupo controle) que tiveram sua atividade cerebral mensurada via
eletroencefalograma (EEG) colocado na
posição Cz. Foram avaliadas as ondas
theta (4-8 Hz), ritmo sensório-motor (SMR; 12-15 Hz), beta (15-18 Hz), razão entre theta/beta e razão entre theta/SMR, em três condições: i) olhos abertos (EO); ii) olhos fechados (EC); e iii) concentrados em um ponto (CA).
Os resultados indicam que: A) a amplitude de theta foi menor em boxeadores nas condições olhos abertos (Figura A-EO) e concentrados em um ponto (Figura A-CA) ; B) o SMR dos boxeadores foi maior em comparação aos estudantes, em todas as condições (Figura B); C) Os valores de razão theta/beta foram menores em boxeadores nas condições olhos abertos (Figura C-EO) e concentrados em um ponto (Figura C-CA); D) na razão theta/SMR em todas as condições os boxeadores apresentaram amplitudes menores (Figura D).
Esses achados revelam que a atenção sensório-motora de boxeadores é alta, comparada a indivíduos que não treinam a modalidade. Uma das possíveis explicações para os achados está na adaptação e potencialização das habilidades neurais necessários ao desenvolvimento nesse esporte. Nesse sentido, analises do ritmo SMR no córtex motor (eletrodo Cz) parecem ser coerentes para analisar níveis de atenção e desempenho em lutadores. Além disso, promover intervenção que possam potencializar a atenção dos atletas, parecer ter que focar nessa região. Futuros estudos envolvendo
Neurofeedback e
Estimulação Neural parecem ser coerentes para avaliar a potencialização do desempenho de boxeadores.
Referências:
Ziólkowski et al. (2014). EEG Correlates of Attention Concentration in Successful Amateur Boxers. Neurophysiology. DOI 10.1007/s11062-015-9468-3
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