Coronavírus: possíveis alterações neurológicas geradas pela COVID-19

Saturday, 21 de March de 2020






   Como todos já sabemos, estamos enfrentando uma pandemia mundial causada pelo coronavírus, que tem gerado impactos sociais e econômicos significativos nos últimos dias. Os coronavírus são grandes vírus de RNA que geralmente geram doenças respiratórias em animais e humanos (Imagem ao lado). Existem vários tipos de coronavírus, como os hCoV‐229E, OC43, NL63 e HKU1 por exemplo, que infectam humanos e podem causar doenças respiratórias leves. Porém, dois tipos de coronavírus humanos já foram considerados graves e  já tiveram sua disseminação mundial mais branda há alguns anos, os responsáveis pela síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) (2002) e pela síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) (2012). Apesar desses dois tipos ainda não tenham sido erradicados do mundo, uma nova variação mais letal e transmissível surgiu em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, chamado de SARS-CoV-2 ou COVID-19. Além de causar uma síndrome que atinge diretamente as funções respiratórias de forma mais grave e de evolução rápida, alguns estudos mostram que possivelmente a COVID-19 pode promover certas alterações neurológicas que por sua vez contribuem para piora do quadro respiratório do infectado. 
 
   Um trabalho publicado em fevereiro de deste ano de 2020, mostrou que vários tipos de coronavírus podem invadir o sistema nervoso central. Estudos realizados em humanos infectados por coronavírus do tipo SARS-CoV demonstraram a presença desse vírus no cérebro, localizadas quase exclusivamente nos neurônios (como indicado nas setas na figura ao lado). O trabalho foi realizado em humanos no qual a morte foi decorrente do SARS-CoV, onde foi observado na tomografia, isquemia, necrose e edema cerebral (Indicado nas setas brancas da figura abaixo) em áreas difusas infectadas pelo vírus, possivelmente decorrente de encefalite (presença de processo inflamatório do tecido cerebral).   
 
        


    Já outros trabalhos experimentais usando camundongos transgênicos revelaram ainda que os coronavírus do tipo SARS-CoV ou MERS-COV, quando administrados para induzir a infecção nos animais por via de intranasal (via na qual é uma das mais propícias para infecção da COVID-19 em humanos), poderiam entrar no cérebro, possivelmente por meio dos nervos olfativos e posteriormente se espalhando rapidamente em algumas áreas específicas do cérebro. Dentre essas áreas, as principais foram o tálamo e tronco cerebral, área na qual está localizado os principais centros responsáveis pelo controle respiratório (como mostrado na figura ao lado). As principais áreas do tronco encefálico infectadas foram o núcleo do trato solitário e o núcleo ambíguo. O núcleo do trato solitário recebe informações sensoriais dos mecanorreceptores e quimiorreceptores nos pulmões e vias respiratórias, além de, junto com o núcleo ambíguo, fornecer inervação ao músculo liso das vias aéreas, glândulas e vasos sanguíneos. Além disso, os camundongos infectados com baixas doses do vírus MERS-CoV, foi detectado esse tipo de coronavírus apenas no cérebro, não no pulmão, o que indica que a infecção no sistema nervoso central (tronco cerebral) foi a principal responsável pelo insuficiência respiratória que ocasionou uma alta mortalidade observada nos animais infectados.
 
    Além dessas evidências, trabalhos realizados com outras espécies de animais, como os suínos, e outros tipos de coronavírus, como o HEV6, também mostraram resultados semelhantes, além de evidenciar que a transmissão viral dentro do sistema nervoso ocorre através das sinapses (conexões entre os neurônios). Apesar de não ter nenhum trabalho atual mostrando a presença de SARS-CoV-2 (COVID-19 - o novo coronavírus que surgiu na China) no cérebro, é importante ressaltar que quase todos os tipos de coronavírus possuem uma estrutura viral, um neurotropismo (capacidade de infectar o tecido nervoso) e uma via de infecção muito semelhante, e dessa forma, todas essas características também podem ser supostamente aplicáveis ao COVID-19.
 
     Dessa forma, é imprescindível que trabalhos sejam realizados com indivíduos que foram infectados pelo SARS-CoV-2 (COVID-19) no intuito de identificar mudanças neurológicas estruturais, celulares, moleculares e funcionais. Para mudanças estruturais e funcionais, podem ser realizados trabalhos em humanos acometidos pelo coronavírus COVID-19 utilizando o Ressonância Magnética Funcional (fMRI) para  avaliar a atividade cerebral nas possíveis áreas acometidas pelo vírus, podendo ser associado com dados de Eletroencefalograma (EGG) ou Espectroscopia de Infravermelho Próximo Funcional (fNIRS), a fim de avaliar as a atividade cerebral elétrica e hemodinâmica, respectivamente, durante atividades que envolvam funcionalidade pulmonar, por exemplo. Já em relação a mudanças funcionais a nível celular, pode-se ser desenvolvidos estudos em modelos animais com implante de microeletrodos intracerebrais após infecção por coronavírus, avaliando assim atividade celular neuronal diante dessas circunstâncias patológicas, podendo ser associadas a análises histológicas de células gliais de defesa, como micróglia e astrrócitos. Trabalhos anteriores já mostraram a importância dessas células no combate ao coronavíros que geraram um processo de encefalite crônica.
 
     Sabendo do perigo iminente atualmente ocasionado pela pandemia mundial da COVID-19, é muito importante que adotemos práticas  na nossa vida diária para conseguirmos nos proteger e proteger toda a sociedade. Práticas como isolamento social e lavar as mãos ajudam na prevenção da transmissão do vírus. Exercícios e atividades como mindfulness e conscientização, ajudam a diminuir a ansiedade durante o período de quarentena. Aqui, trazemos as principais recomendações de mudança de práticas de vida diária da Organização Mundial de Saúde (OMS):

      
       
       


Assista o Plantão Neurolab sobre Coronavírus e sociedade:

            



Referências:

Li, Yan‐Chao, Wan‐Zhu Bai, and Tsutomu Hashikawa. "The neuroinvasive potential of SARS‐CoV2 may be at least partially responsible for the respiratory failure of COVID‐19 patients." Journal of Medical Virology (2020).
 
Wheeler, D. Lori, et al. "Microglia are required for protection against lethal coronavirus encephalitis in mice." The Journal of clinical investigation 128.3 (2018): 931-943.
 
Netland, Jason, et al. "Severe acute respiratory syndrome coronavirus infection causes neuronal death in the absence of encephalitis in mice transgenic for human ACE2." Journal of virology 82.15 (2008): 7264-7275.
 
Xu, Jun, et al. "Detection of severe acute respiratory syndrome coronavirus in the brain: potential role of the chemokine mig in pathogenesis." Clinical infectious diseases 41.8 (2005): 1089-1096.
 

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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